Belphegor

The Devils
2022 | Nuclear Blast | Black/death metal

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Quando o black e o death metal casam tão bem, têm que ser representados por alguém capaz de disparar uns clássicos dignos tanto para um lado como para o outro. É o que andam os Belphegor a fazer há umas décadas e não há qualquer crise de identidade em “The Devils,” talvez o disco com o título menos criativo que se esperasse destes Austríacos.

Por aí se fica a simplicidade e aparente desinspiração, se é que chega a invocar tanto. Até pode entrar com uma faixa-título a apresentar-se como o seu tema mais remetente aos Behemoth, mas num instante entram aqueles ruidosos e blasfémicos Belphegor que fizeram de “Goatreich – Fleshcult” ou “Bondage Goat Zombie” clássicos de toda a música extrema. Com um “Totenritual” a sugerir e já quase a confirmar que o percurso da banda estava mesmo inteiramente voltada para a parcela death metal da equação, “The Devils” na verdade reacorda aquela fusão cortante, a velocidade de partir pescoços naqueles tremolo que se revelam tão melódicos naquele frenesim que até nos assustam. “Totentanz – Dance Macabre” é o maior throwback aos tempos dos seus clássicos e podia ficar-se por aí, por uma recuperação daquela sonoridade única. Enganam-nos bem aí.

O álbum é tudo menos uma banal reprodução daquilo que os tornou conhecidos entre os círculos adoradores da música extrema. O lado melódico não se deixa intimidar pelo lado brutal, sem o ofuscar e “The Devils” poderá ser o trabalho mais atmosférico – mesmo no sentido violento e apocalíptico da coisa – do seu repertório, sem medo de recorrer a orquestrações, cânticos, guitarras acústicas, cuidadas e intimidantes vozes limpas, interlúdios orientais e até alguma inspiração progressiva para construir os temas em direcção a um armagedão que antecipamos durante toda a sua duração. Recorrendo, a medo, a alguns palavrões que talvez espantem muitos, pode dizer-se que há uma aura gótica sobre “The Devils,” mas nada de alarmante. Todos esses factores não os aproximam de uns Dimmu Borgir ou o que seja, nem a agressividade tem qualquer travão. Pelo contrário, pode ser o seu disco mais brutal desde “Blood Magick Necromance.” Uma audição bastante interessante proposta por uma banda que talvez assumíssemos que só nos quisessem dar descarga após descarga de peso e profanação. Cresce a cada audição. É descobrir-lhe as manhas novas e abanar a cabeça o tempo todo. E arrastar um pouquinho para o lado e deixar um espacinho no assento, que entretanto o chifrudo já foi invocado e também ele vai querer apreciar isto.

Músicas em destaque:

Totentanz – Dance Macabre, Glorifizierung des Teufels, Virtus Asinaria – Prayer

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Hate, Behemoth, Naglfar


sobre o autor

Christopher Monteiro

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