Partilha com os teus amigos
The Light Between Oceans
Título Português: A Luz Entre Oceanos | Ano: 2016 | Duração: 133m | Género: Drama, Romance
País: Reino Unido, Nova Zelandia, EUA | Realizador: Derek Cianfrance | Elenco: Alicia Vikander, Michael Fassbender, Rachel Weisz

Não conseguindo ultrapassar os horrores das trincheiras, Tom Sherbourne decide que o melhor a fazer é isolar-se da sociedade e aceitar trabalho como faroleiro numa remota região da Austrália. Contra todas as probabilidades, durante uma das poucas visitas à aldeia mais próxima, encontra Isabel Graysmark por quem imediatamente se apaixona e pouco tempo depois acaba por casar. Tudo parece correr bem. Vivem isolados na companhia de quem mais querem, a única coisa que acrescentariam a esta vida seria uma criança e Isabel chega mesmo a engravidar, mas não consegue levar a termo. Depois de dois abortos espontâneos, a esperança começa a escassear, até que, do nada, avistam um bote com o cadáver de um homem e uma criança de poucos meses, ainda viva. Relutantemente, Tom acede ao pedido de Isabel e não denunciam o caso, escondendo o cadáver e assumindo a criança como sua. A trama adensa-se quando conhecem a mãe biológica do bebé e o segredo corre o risco de ser descoberto.

the_light_between_oceans_01

O grande mérito deste filme reside na construção do casal, que é absolutamente necessária para conseguirmos perceber as motivações por detrás dos actos. Seria muito fácil alienar o público com uma decisão reprovável se não fossemos expostos ao crescendo pessoal de Tom e Isabel, se não testemunhássemos o nascer do amor e o posterior desencanto do quotidiano, onde os sonhos não se traduzem em realidade. Curiosamente, antes de se dar o acontecimento que catalisa o cerne da história, não sentimos qualquer tipo de ansiedade e estamos apenas concentrados no momento. Sentimos o isolamento de Tom naquele farol, compreendemos aquela paixão fulminante e somos brindados com uma série de postais em movimento que nos hipnotizam e envolvem no cenário. A chegada da criança levanta uma série de questões que vão para além do thriller criminal. A decisão não é consensual e não afecta só os envolvidos, há uma mãe atormentada pela perda do marido e da filha, toda a comunidade está envolvida com as personagens e quanto mais o tempo passa, mais todos este factores vão pesando aos olhos da lei e do mundo. Sem revelar absolutamente nada acerca do desfecho e sem ter lido o livro que deu origem ao filme, não consigo deixar de olhar para o final com alguma amargura pela falta de coragem e a necessidade de embrulhar tudo com um laçarote. O que acontece no final tem muito pouco a ver com aquilo que ficámos a conhecer das personagens e há uma mudança completa de comportamentos que parece forçada por algum poder exterior.

Ao ver os dois actores principais senti um claro desequilíbrio inicial entre Alicia Vikander e Michael Fassbender, ele parecia estar apenas existir e ela transpirava vida. À medida que o tempo passa, percebemos que há muito mais a descobrir na personagem de Tom e que Fassbender estava a interpretar na perfeição alguém com uma bagagem emocional carregadíssima, com segredos que nunca são revelados mas que sabemos ter. É uma personagem extremamente complexa e dá imenso gozo tentar perceber quem é aquela pessoa, não através de monólogos sobre o passado mas das decisões e comportamentos. Alicia Vikander representa a juventude inadulterada pela vida e conservada em contexto familiar, um bom contraponto para Tom e talvez, por isso, mais inconsequente e presa ao momento. Há uma entrega completa ao papel e funciona de uma maneira muito orgânica. O mesmo não se pode dizer de Rachel Weisz, uma mulher que perdeu toda a família não deveria ser tão contida. Sentimos que o trauma existe mas que não está a ser transposto da maneira que o texto exige, o que é uma pena, porque é uma das melhores actrizes a trabalhar neste momento e acaba por sair daqui como um veículo para os acontecimentos se desenrolarem.

the-light-between-oceans-02

Estava à espera de um romance cliché e de uma dúvida interessante, mas acabei por encontrar um filme com personagens brilhantemente texturadas e uma situação com implicações maiores e nada simplistas. Podemos entender o filme como um ensaio sobre o isolamento e como este pode toldar o raciocínio das pessoas mais bem intencionadas, mas é também uma história sobre os limites do amor e da felicidade pessoal quando justaposta à felicidade de outros. O último acto do filme deixa algo a desejar, não está de acordo com o tom geral da trama e acaba por manchar tudo o que está para trás.


sobre o autor

Jose Santiago

Partilha com os teus amigos