Love Is Never Enough” é o oitavo álbum de Tsunamiz e é um retrato cru e humano de desilusão, impotência e desencanto social. O disco nasce de um contexto de desafios estruturais e barreiras históricas: Bruno Sobral cresceu numa família humilde no Seixal, sem acesso a recursos ou conexões no meio artístico, e produz música de forma prolífica apesar das limitações. Tsunamiz representa uma geração que não falhou, foi falhada pelo sistema, e que continua a encontrar barreiras invisíveis que mantêm muitos artistas enclausurados numa bolha de precariedade e dependência.

Todo o processo criativo, composição, gravação, mistura, masterização e artwork, foi feito por Bruno Sobral (Tsunamiz) entre a sua casa e a sala de ensaios, provando que a estética e potência musical podem vencer qualquer limitação técnica ou orçamental.

#1 I’ll Meet You at the Graveyard

O álbum começa no limiar entre a melancolia e a energia. I’ll Meet You at the Graveyard é a porta de entrada: uma faixa post-punk, darkwave e gótica, mas com sintetizadores, melodias e refrões que ficam na cabeça. É o tipo de canção que poderia tocar numa Graveyard Sessions, daí o título, tendo um duplo sentido. Fala de excessos, alienação e da vida boémia; niilista, mas com um sorriso escondido. Uns The Cure cantados por Cobain, onde a tristeza se veste de atitude.

#2 Free and Young (feat. Miguel Leonardo)

A partir daqui, o disco avança para a liberdade. Free and Young (feat. Miguel Leonardo) é o manifesto da juventude que recusa ser aprisionada pelo sistema. Com synths, peso e revolta, a canção lembra Young Folks dos Peter Bjorn and John, mas com mais nervo. O tempo é o tema central: o que temos, o que desperdiçamos, o que nos é roubado. No contexto laboral, vendemos o nosso bem mais precioso (depois da saúde) por uns euros, repetindo o ciclo até não sobrar energia. Mas esta faixa é sobre romper com isso, encontrar novas soluções, enquanto somos livres e jovens.

#3 We’ll Stand Forever

Aqui a revolução já começou. Os versos são confissões, gritos e protestos contra tudo e todos: governo, comunicação social e estruturas que nos prendem. É indie rock cru à la Pixies e L7, e o refrão épico, com vozes unidas em uníssono, evoca Queen, ABBA e Alphaville. Os cânticos finais evocam Kasabian e a energia de uma claque de futebol, celebrando a vitória de uma revolução que ainda ecoa nos nossos corações.

#4 Slide

Depois da rua e da batalha, o olhar volta-se para dentro. Slide fala de relações que deixam marcas e do mecanismo de defesa de nos isolarmos. No final há uma epifania: não somos culpados do mal que nos fizeram. Podemos deixar para trás a destruição e deslizar para frente. Musicalmente, Slide mistura cool indie vibes com eletrónica ao estilo nova-iorquino, culminando num climax intenso, quase como se os Depeche Mode tivessem nascido em Seattle.

#5 Danse Macabre (feat. Priscilla Devesa)

A morte é presença constante neste álbum: o “final boss” contra quem todos, sem exceção, perdemos o jogo da vida. Priscilla Devesa, colaboradora de longa data, dá voz e co-escreve esta faixa, que mistura a energia dos Chemical Brothers, LCD Soundsystem e Soulwax. Todos, ricos ou pobres, bons ou maus, dançamos até à noite profunda da qual ninguém retorna.

#6 Safa Lá Um Naite

Um dos sons que mais me divertiu criar. Synthpunk à la Suicide, surf rock à Dick Dale e uma letra que deixaria o Allen Halloween orgulhoso. Má vida, consequências ignoradas, personagens que não se preocupam com o amanhã. É por isto que adoro criar música: misturar referências e paixões numa só explosão sonora.

#7 The Biggest Killers

Agressiva e industrial, um synth que parece um enxame de abelhas. A letra denuncia assassinos modernos: literal e figurativamente. O segundo verso questiona a moral judaico-cristã ao estilo de Nietzsche: como ela mata a autonomia, a criatividade, o amor-próprio. Ninguém escapa. Ninguém detém a superioridade moral. O refrão transmite a sensação de ser silenciado, de ser levado para longe: “you’re walking me out the door”. Uma crítica à falsidade de verdades impostas.

#8 Love Is Never Enough

O coração do álbum, o single de apresentação. Todos os temas confluem aqui: o tempo que passa, os sonhos que fracassam, a crença em nós e nos outros que diminui. O amor nunca salvou, nunca foi suficiente. Joy Division encontra The Kills numa marcha fúnebre lenta e envolvente. Um suspiro final, mas a música continua: eu sigo a criar, e todos são convidados a escutar. Canções para mim e para quem quiser ouvir.


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