Bemti

Logo Ali
2021 | Edição de Autor | Pop

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Logo Ali“, segundo disco de Bemti, foi editado no passado mês de Setembro e conta com o apoio da plataforma Natura Musical, tem participações de artistas consagrados da música brasileira como Fernanda Takai, Hélio Flanders, Jaloo, Marcelo Jeneci e também conta com o sotaque português de MURAIS, que faz um fado especial em Do Outro Lado (Mantra Tornado Grito).

Direção Musical – Bemti
Produção Musical – Luis Calil e Pedro Altério
Mixagem – Luis Calil
Masterização – Florencia Saravia-Akamine
Pré-Produção – Cauê Lemes

Gravado majoritariamente nos estúdios
Ilha do Corvo em Belo Horizonte (com Leonardo Marques)
Gargolândia em Alambari (com Thiago Baggio)
FLAP Studios em São Paulo (com Caio Zé)

#1 Canto Cerrado

Letra: Bemti
Música: Bemti e Pedro Altério
Musicista Convidado: Paulo Santos (Uakti)

A primeira ideia sonora que eu tive pra abertura do “Logo Ali” era uma caminhada em direção ao topo de uma serra onde o ouvinte encontra uma Folia de Reis, com o arranjo “entrando em foco” aos poucos pra introduzir o universo épico do disco. Comecei a compor “Canto Cerrado” em 2019 depois de um show da mineira Titane cantando o repertório do baiano Elomar (e que teve participação de uma poetisa coberta com a lama do acidente de Brumadinho). Fiquei meses remoendo os versos que vieram dessa experiência que foi muito impactante, até que no fim de 2020 o Pedro Altério revolucionou a melodia da música e eu finalmente terminei de escrever a letra e fechar a estrutura. O tambor que atravessa a canção (e que volta na última música do disco) é uma Caixa do Divino – mais um aceno à Folia de Reis – tocada pela Bianca Predieri, baterista na maioria das faixas do “Logo Ali”.

O convite pro Paulo Santos (que foi um dos membros fundadores do Uakti) participar da música me encheu de alegria, pois o Uakti foi um diamante mineiro que rodou o mundo inteiro, fizeram duas das minhas trilhas sonoras favoritas do cinema nacional (“Lavoura Arcaica” e “Ensaio Sobre  A Cegueira”), e sempre me emocionaram com seus shows ao longo dos anos. Ter vários dos instrumentos inventados pelo Paulo Santos no arranjo é de uma riqueza gigantesca. Além disso, o Paulo participou com o Uakti do disco “Anima” do Milton Nascimento (1982) que é uma das grandes inspirações do “Logo Ali”. Em “Canto Cerrado” você encontra ecos de “Evocação das Montanhas”, abertura do disco “Anima”, mas também de “Little Bear” do Guillemots e “Perth” do Bon Iver, que também são músicas de abertura de disco que estão entre as minhas favoritas da vida. Fico na esperança de que o Milton escute essa música (e esse disco) algum dia.

#2 Livramento

Letra: Bemti e Nina Oliveira
Música: Bemti
Co-Produtor e Musicista Convidado: Marcelo Jeneci

“Livramento” é um caso raro de música que eu comecei a compor a partir de um título já definido. Fiquei alguns meses de 2020 remoendo essa palavra e sempre vinham uns versos muito ressentidos (num clima meio “Tango”, ‘hit’ do primeiro disco com participação do Johnny Hooker), até que a música só aconteceu quando entendi que não tinha tanta certeza se aquele livramento era mesmo um livramento, e que os meses de pandemia haviam embaçado muita coisa que parecia certa. Misturei esse novo conceito com uns versos feitos a partir de um tweet da Nina Oliveira (sobre as camisas dos crushes que sempre viram pijama ou pano de chão) e a música se materializou. A Nina sugeriu que a música fosse uma sofrência e por isso a métrica do vocal bebe bastante do sertanejo contemporâneo.

Desde esse primeiro momento eu queria uma sanfona no arranjo e claro que a primeira pessoa que eu pensei pra essa tarefa foi o Marcelo Jeneci, de quem eu sou muito fã e que achei que tinha tudo a ver com a música. O resultado saiu muito melhor do que a encomenda porque o Marcelo se empolgou tanto com a música que acabou sendo co-produtor dela: além da sanfona, tocou piano Wurlitzer, fez diversos vocais de apoio (como assovios e vocalizes) e palpitou bastante no arranjo. Com essa nova cara, estruturamos então o coro final que tem as vozes de Paulo Novaes, Pedro Altério e Cauê Lemes (que também toca piano de cauda nessa música e no restante do disco). “Livramento” é muito inspirada pela britânica Laura Marling, que inclusive toca diversas músicas com a mesma afinação da viola caipira (um Ré aberto). Também evoca uma música que marcou muito minha infância: “Caminhoneiro” do Roberto Carlos, que é uma versão (não autorizada na época) de “Gentle On My Mind” do Glen Campbell. Só adulto descobri que aquela música que me emocionava quando criança era uma versão de um folk norte-americano premiado.

#3 Catastrópicos! (participação Jaloo)

Letra: Bemti
Música: Bemti e Cauê Lemes

Primeiro single do “Logo Ali”, “Catastrópicos!” sempre foi um statement pra mim. Eu queria que com essa música as pessoas entendessem a minha evolução como cantor, compositor e musicista do primeiro pro segundo disco, e que fosse um cartão de visitas do universo lírico do “Logo Ali”: o “tropical denso”, a “espera pelo que há de vir”, o “apocalipse diário de ser brasileiro independente da época”, etc. Mas acima de tudo, eu queria que fosse uma música envolvente e que desse vontade de dançar por mais complexa que fosse. “Catastrópicos!” é de longe a música que eu mais tive trabalho pra compor na vida! Eu levei ao extremo uma vontade de expandir meus limites do que eu considero pop e a estrutura dela te engana de 10 em 10 segundos. Mas a roupagem vibrante e a harmonia entre as minhas vozes e as do Jaloo te levam por essa montanha russa de quase 4 minutos. Como bem demonstrado nessa imagem que postei em minhas redes sociais um tempo atrás:

Eu fiz o convite pro Jaloo participar do disco quando eu ainda estava escrevendo o projeto pro Natura Musical, muito antes da música existir. Fiquei feliz que ele realmente topou no fim das contas porque eu compus “Catastrópicos!” pensando nesse encontro dos nossos dois mundos e não consigo imaginar nenhuma outra pessoa cantando e sustentando esse universo que eu visualizei. Até a viola caipira eu tento levar pra um lugar de guitarrada. Mas gosto de como várias pessoas já disseram que essa é minha música “mais brasileira” até hoje sendo que ela também é uma mistura de The Knife, Mew, El Guincho, Dirty Projectors, Amason… pra dizer alguns nomes. Uma bela mistura!

#4 Se entrega!

Letra: Bemti
Música: Bemti
Co-Produtor Convidado: Rodrigo Kills (Cyberkills)

Talvez “Se entrega!” seja o momento mais direto do disco. Parte da “trilogia de singles dos pontos de exclamação”, ela foi composta em um dos dois momentos de plenitude que eu tive desde o começo da pandemia, no fim de 2020. É fruto de uma entrega emocional realmente gigante e isso transparece nos versos quase ingênuos de tão românticos. “Se entrega!” nasceu em Ilhabela assim como “Carta a um Marinheiro”, do primeiro disco, e pra mim ela consegue pintar com cores muito vivas um amor tropical em volta do qual você percebe um mundo desmoronando, seja em pistas da letra ou no arranjo genial feito pelo Luis Calil, que vai crescendo como uma ventania de fim de tarde.

A participação do Rodrigo Kills (do Cyberkills) como co-produtor veio na concepção das vozes sintetizadas, que apontam tanto pra artistas como Bon Iver (em “Hey Ma” por exemplo) e Caroline Polachek, quanto pra sons mais mundanos, como músicas virais de stories e de TikTok. A voz sintetizada é uma mistura da minha voz, com vocoder e o canto do passarinho Saci (Tapera Naevia), uma melodia melancólica com apenas duas notas que também é um som muito característico da minha infância.

#5 Quando o Sol Sumir (participação Fernanda Takai)

Letra: Bemti e Roberta Campos
Música: Bemti e Cauê Lemes
Musicista Convidado: Helio Flanders

As primeiras ideias que levariam a “Quando o Sol Sumir” surgiram depois do show que fiz com a Roberta Campos no Festival Timbre em Setembro de 2019. Desde lá dizia que queria fazer com ela uma música que era trilha de um “casamento no fim do mundo”. Escrevi minha parte da música em Colônia do Sacramento no Uruguai, em Janeiro de 2020, um dia depois de uma das experiências mais intensas da minha vida: meu primeiro show fora do Brasil em Buenos Aires. Um show esgotado, numa segunda-feira, tocando com o incrível e inesquecível Gabo Ferro, que viria a falecer poucos meses depois.

Foi uma letra e uma melodia que ficou guardada por meses sem alterações até que em uma das sessões de gravação do disco em Fevereiro desse ano, a Roberta Campos mandou a parte dela da letra e nós gravamos minha voz pra música inteira logo em seguida. A minha voz principal que você escuta na música vem quase toda de um único take que eu gravei assim que recebemos a letra da Roberta. Todo mundo no estúdio ficou muito emocionado.

Nessa época, pensando em nomes pra convidar pra música, a gente já tinha pensado na Fernanda Takai e foi muito incrível ela ter topado. Não consigo medir a importância que o Pato Fu teve na minha formação musical desde quando eu era criança, e em 2016 toquei viola caipira em um show solo da Fernanda, momento esse que foi bem decisivo na minha tomada de coragem pra criar meu trabalho solo.

A segunda metade da música aponta pra várias bandas que eu amo como Mew, Baleia, Sigur Rós, Bon Iver… e é nessa segunda metade que aparece o trompete tocado pelo Helio Flanders, outra presença no disco que já estava confirmada desde quando eu escrevi o projeto em 2019.

#6 Não Tava Nos Meus Planos

Letra: Bemti e Pedro Altério
Música: Bemti, Luis Calil e Pedro Altério

“Não Tava Nos Meus Planos” foi composta durante a imersão no estúdio Gargolândia em Fevereiro desse ano, então é uma das músicas mais recentes que estão no “Logo Ali”. Acho que ela é bem explícita ao falar sobre o período da pandemia, mas na letra eu fiz um esforço (assim como em “Catastrópicos!”) pra que o que eu canto não ficasse restrito a esse momento. É uma música sobre expectativas, sonhos quebrados e a paz que vem de uma certa resignação. O instrumental do final é o gran finale do primeiro ato do disco e pra esse trecho trazemos uma referência bem grande ao The National.

Uma curiosidade é que apesar de não parecer, a música tem 2 bpms diferentes que se alternam ao longo da duração.

#7 Salvador (interlúdio) (part. Josyara)

Letra: Bemti
Música: Bemti

O interlúdio do “Logo Ali” se desenrola sobre sons do Largo da Calçada em Salvador, sirenes de navio e um piano distante… Esse interlúdio surge de uma provocação presente em boa parte do disco que é brincar com o que as pessoas esperam que seja “soar brasileiro”, pois escutei diversas vezes desde que lancei o “era dois” (até de programadores de festival) que meu som era “estrangeiro demais”. A presença de Josyara recitando e cantando traz um tom profético pra mágoa desse desamar que se mistura ao fim do mundo. É um respiro na metade de uma jornada densa e o prenúncio de uma solidão gigantesca. É um intervalo que tem essa origem na provocação mas que se leva bastante a sério e quer emocionar quem escuta. Assim como a Copacabana de “Tango”, a Salvador desse interlúdio pode ser qualquer lugar pra cada pessoa que escuta.

#8 Habitat

Letra: Bemti
Música: Bemti

Sai o primeiro ato “diurno, afetivo e pré-apocalíptico” e entra o segundo ato mais “noturno, solitário e cataclísmico”. Escrevi “Habitat” no segundo semestre de 2019 e até a incluí nos shows que fiz no primeiro trimestre de 2020 antes da pandemia. No fim das contas ela era como um presságio do isolamento, e a letra que já existia ganhou contornos completamente diferentes. Eu sempre me arrepio hoje em dia cantando versos como “eu andei na mesma rua imaginando outra, imaginando uma aventura que me libertasse do meu habitat”, porque tem tudo a ver com o que estamos enfrentando de uma forma muito premonitória. E é um bom sinal de que é uma música sobre solidão que não se restringe à solidão pandêmica. No arranjo mergulhamos fundo em uma referência que eu queria muito incluir no disco que é a Phoebe Bridgers mas também tem muito de Tuyo e Bon Iver (que é meio onipresentes no meu trabalho) e liricamente eu percebo algo (que outras pessoas já falaram também) de Adriana Calcanhotto, que eu admiro por ter sido muito prolífica nos últimos anos cantando o “agora” de um jeito muito sensível.

#9 Eu Te Dei Tudo Que Eu Sou

Letra: Bemti
Música: Bemti e Cauê Lemes

Música mais antiga do “Logo Ali”, escrevi “Eu Te Dei Tudo Que Eu Sou” em Dezembro de 2018 quando eu estava em Florianópolis, pouco depois do show de lançamento do “era dois” (no Sesc 24 de Maio em São Paulo). A música veio da mistura de duas mágoas bem grandes: uma por estar me sentindo insuficiente num relacionamento e a outra por estar me sentindo insuficiente na música. O “era dois” nasceu de um “tiro no escuro” confessional e de uma dedicação profissional muito gigante, e eu sentia ali que não estava conseguindo atingir as pessoas o quanto eu gostaria (tanto é que só percebi mais atenção do público, dos programadores e dos jornalistas musicais na virada do ano e ao longo de 2019).

Escrevendo “Eu Te Dei Tudo Que Eu Sou” já tinha o arranjo muito claro na minha cabeça desde os primeiros momentos, e lembro de entender ali como eu queria que o disco soasse. Algo como meu Arcade Fire particular.

Talvez seja a música mais cinematográfica do disco (sou completamente apaixonado pelo break instrumental) e quero muito relançá-la com uma participação que eu cheguei a convidar pro disco mas que vou convidar de novo ano que vem.

#10 Samba! (part. ÀVUÀ)

Apelidada carinhosamente de “samba da Björk”, “Samba!” é o começo da reta final do disco e um dos arranjos mais complexos dele. Acredito ter sido uma escolha ousada lançá-la como um dos três singles pré-álbum mas considero ela uma peça-chave pra entender o “Logo Ali” como esse lugar de exploração do brasileiro-estrangeiro, da viola caipira em outros contextos, do apocalipse através do som, das participações como parte muito integrada dos arranjos, etc. Quando chamei a Bruna Black e o Jota.pê (do duo ÀVUÀ) pra música, lembro de ter enviado um audio de 11 minutos explicando com detalhes como eu queria o arranjo (que bom que eles toparam). Fãs do primeiro disco vão reconhecer a Bruna como a Gata do clipe de “Eu te Proíbo de Ter Esse Poder Sobre Mim”.

A percussão vocal construída pela Bruna e pelo Jota ao longo da música remete ao disco “Medúlla” da Björk e ao trabalho do Moses Sumney. A Björk também volta nas respostas do refrão, totalmente inspiradas em “Pagan Poetry” (fiquei muito feliz que várias pessoas me mandaram mensagem dizendo que se lembraram dessa música quando escutaram “Samba!”) e também no disco “Afrosambas” de Vinicius de Moraes e Baden Powell, de onde partem outras inspirações. Já os sopros têm como referência o disco de 1974 da Elza Soares, principalmente em “Deusa do Rio Níger” que eu amo demais.

Todas essas referências serviram pra materializar o “carnaval fantasma” cantado em “Samba!” que virou um clipe lindíssimo filmado em plano sequência no Teatro Francisco Nunes em Belo Horizonte.

Lembro do “Caio Zé”, técnico do FLAP Studios, gravando a Bruna e o Jota e totalmente desconfiado de como a música ficaria depois e muito surpreso quando ouviu ela pronta.

#11 Do Outro Lado (Mantra Tornado Grito) (part. Murais)

Letra: Barro, Bemti e Murais
Música: Barro, Bemti e Murais

“Do Outro Lado (Mantra Tornado Grito)” começou a surgir na primeira semana de quarentena, quando eu estava em Recife hospedado na casa do Barro, sem saber quando conseguiria sair de lá. Recife seria a primeira parada de uma turnê no Nordeste que aconteceria em Março de 2020 e acabou sendo o último show “da vida”: todos os outros shows foram cancelados enquanto eu ainda estava lá. O Barro, que é um produtor e musicista incrível, pegou a viola caipira um dia e começou a dedilhar e cantarolar o que seria a base do verso, depois eu entrei com o refrão e começamos a rascunhar essas palavras. E então eu só retomei essa música um ano depois, em Março desse ano!

Quando saí de Recife fui para a roça no interior de Minas e fiquei 5 meses em total bloqueio criativo, não escrevi nada novo até sair de lá. E mesmo depois que saí, toda vez que eu tentava trabalhar na “Do Outro Lado” eu me afundava numa tristeza absoluta. Com a segunda onda de Covid no Brasil em Março desse ano, entendi que o “outro lado” não estava tão próximo assim e que essa música era a que faltava pra tracklist. No final das contas a letra evoca o “aguentar”, independente de qual seja a jornada ou o obstáculo, mas acho que vai ressoar bastante pra quem escutar refletindo sobre o que temos vivido na pandemia e como reféns de um governo de extrema direita.

Não sei exatamente em qual momento tive a ideia de colocar um spoken word no segundo verso mas foi na mesma época em que eu convidei o Murais pra música (compus esse spoken word durante uma viagem de ônibus do interior para Belo Horizonte, tentando fazer referência a Guimarães Rosa e Augusto de Campos). Já tinha escutado o trabalho solo do Murais antes (o disco é produzido pelo Benke Ferraz do Boogarins), e fez todo sentido ter alguém “do outro lado” do Atlântico cantando o ponto de vista dele sobre esse “aguentar”. O Murais compôs o final da música se inspirando em métricas de fado depois que eu contei que a viola caipira é descendente da guitarra portuguesa (instrumento que acompanha o fado). Quem co-produziu a música foi o jojô (que também já produziu Tagua Tagua, Filipe Catto, Johnny Hooker…) e ele foi muito importante pra gente chegar nesse resultado que eu queria de “forró do fim do mundo”. Eu gosto como o final da música é um gran finale mais épico do que todos os crescendos épicos que o disco apresenta antes.

#12 De Tanto Esperar

A jornada chega ao fim? Comecei a compor “De Tanto Esperar” no Carnaval de 2020 e mais uma vez era um presságio de algo que nós não sabíamos na época. 2020 era pra ter sido meu ano de ficar na estrada por meses tocando e de repente me vi “preso na roça” por 5 meses sem poder “cantar sobre tudo o que me guia, em cada sotaque cada língua, só pra me perder depois e o meu dicionário criar”… Gravei “De Tanto Esperar” muito despretensiosamente em uma das sessões de estúdio no Ilha do Corvo e por algum motivo imaginava ela como um lado B ou faixa bônus (importante ressaltar que 5 músicas ficaram de fora da seleção final do disco). Foi só na imersão no estúdio Gargolândia em Fevereiro que tive um grande “momento Eureka” com o Pedro Altério em uma madrugada e percebemos que “De Tanto Esperar” tinha exatamente o mesmo BPM que “Canto Cerrado” (92 BPM)! Ficamos chocados com a coincidência e imediatamente tivemos a ideia de repetir elementos da “Canto Cerrado” na música (os passos, a caixa do divino, o Trimi tocado pelo Paulo Santos…) e ali tínhamos o encerramento do “Logo Ali”. Uma música que bebe bastante de Phoebe Bridgers e Sufjan Stevens mas também consigo escutar ecos de Tulipa Ruiz, uma das minhas cantoras e letristas favoritas dessa última década.

No final os passos fazem um link perfeito com o início de “Canto Cerrado” e a caminhada começa outra vez pra quem quiser repetir a jornada em direção ao outro lado. Ao logo ali.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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