III, o mais recente disco de Memória de Peixe, assinala um novo capítulo no percurso do projecto criado pelo guitarrista e produtor Miguel Nicolau, agora na companhia de Filipe Louro (baixo) e Pedro Melo Alves (bateria e electrónica).
Partindo da premissa original que funde rock, jazz e espaço para o improviso, este power trio apura a sua sensibilidade pop nos 11 temas do álbum e aposta numa forte dimensão visual e conceptual, num encontro entre sons orgânicos e electrónicos, e imagens e narrativas que convivem em forma de canção.
Coesos na composição e na performance, os Memória de Peixe desafiam a distopia dos nossos dias, num apelo à paz reflectido nas guitarras inovadoras de Nicolau e na secção rítmica implacável de Louro e de Melo Alves, como também nas vozes e nos sintetizadores que caracterizam o mais recente trabalho.
#1 Good Morning
É a alvorada do disco. Progressiva, cinematográfica, com um narrador em forma de viajante espaço-temporal que surge para despertar a consciência da humanidade — enquanto é tempo. Um tema que apresenta o trio e percorre toda a sonoridade encantada e solar deste novo capítulo de Memória de Peixe.
#2 Peacemaker
A história de uma criança que faz as pazes com os seus fantasmas. Uma viagem onírica ao mundo interior, atravessando desertos pessoais num gesto de superação e resiliência. Compusemos esta canção com essas imagens em mente — vozes etéreas, um arco narrativo muito visual. Vai ter um videoclipe em animação, a seu tempo.
#3 03:13
Simboliza uma hora em que as realidades confluem e se abrem paradoxos, portais para mundos paralelos e estranhas coincidências. Nasceu de uma jam comigo e com o Marco Franco, no meu aniversário, e evoluiu com o Pedro Melo Alves e o Norberto Lobo. É uma música muito inspirada em David Lynch. Contamos com o incrível solo de sax do nosso amigo José Soares.
#4 Under The Sea
Mergulho num oceano encantado, onde está o crooner Norberto Lobo e os seus amigos aquáticos, a cantar sobre o amor. Esta música contou com um momento absolutamente mágico em estúdio: improvisou a melodia e a letra ao primeiro take. Já vinha de uma jam — e aqui ainda mais orgânica ficou.
#5 El Vuelo
Outro tema com muitos felizes acasos. Partes que surgiram em jams e ficaram cristalizadas na canção tal como apareceram. Fala sobre um pássaro, o Chico, e é também uma homenagem ao Edgar Libório — um grande amigo e colaborador que voou para outra dimensão, mas que estará sempre connosco.
#6 Close Encounters
Mais uma canção que vem sabe-se lá de onde. A melodia foi transcrita de uma jam. Regravámos apenas algumas camadas, de forma muito subtil. É uma música solar, como um banho de luz.
#7 Coincidentia
Uma das músicas mais antigas do disco, existe desde 2017. Tocada sob diferentes formas por todas as formações da banda, teve dezenas de microversões. Esta foi provavelmente a menos imediata, e também aquela em que surgiu o protótipo do som do pedal que harmoniza a guitarra. Estamos muito contentes com o resultado a que chegámos em trio — não mexíamos em mais nada, o que é uma óptima sensação depois de tanto tempo.
#8 Not Tonight
Uma das primeiras músicas que mostrei ao Pedro Melo Alves. Tem uma vibe muito própria — noctívaga, deambulante. Passou por várias versões. De interlúdio passou a canção, com voz e letra — a nossa voz de narrador, aqui na pele de um morto-vivo que regressa à vida. Evoca muitas imagens e, se tudo correr bem, terá também um vídeo. Contamos novamente com o incrível contributo do José Soares no saxofone.
#9 The Sun Inside Your Eyes
A mais antiga e primeira música composta para este disco, em 2017. Criada quase em registo de banda sonora, ganhou muito em trio — foi totalmente incorporada, construída por nós. Simboliza o espírito solar e multidimensional do disco. Particionada, mas coesa e progressiva. Uma grande viagem para nós.
#10 Golden Fiasco
Já foram créditos finais, já se chamou “Piña Colada”, nome de código “Havaiana”. Isto diz tudo. Condensa a nossa vontade de, no final, tudo estar bem. Está também prevista em videoclipe, se tudo correr bem, e vai fazer muita justiça ao nome actual e definitivo do tema.
#11 Good Night
O epílogo. É indescritível descrever a sensação de ouvir pela primeira vez esta composição do Pedro Melo Alves. Resume o disco em formato de música de câmara — como se viesse de outro espaço, tempo ou realidade paralela. É um medley secreto de todas as músicas. Um fecho perfeito para tudo o que este disco representa e é curioso como o disco ganha ainda mais sentido depois de a ouvir.