I Have An Atomic Bomb Inside Me” é o disco de estreia da dupla leiriense Terrible Mistake, lançado em formato digital e em vinil no passado dia 21 de novembro.

Neste primeiro registo, o duo mergulha decididamente na eletrónica de inspiração underground, combinando ambiente, psicadelismo e uma dose de escuridão. As faixas avançam entre ritmos hipnóticos, vozes etéreas e atmosferas que tanto remetem para a introspeção como para a energia de um clube às três da manhã.

Ao longo das seis músicas, os Terrible Mistake exploram batidas eletrónicas com personalidade, baixos marcantes e explosões de grave que dão corpo a um universo próprio. Entre passagens mais suaves e momentos de maior intensidade, o álbum constrói uma identidade sonora coesa e envolvente, um primeiro capítulo que aponta o caminho para o que o duo poderá desenvolver daqui para a frente.

#1 Mix of Substances

O disco começa com “Mix of Substances”, uma faixa de onze minutos que nos conduz por três universos sonoros diferentes. Foi uma das primeiras criações da banda, nascida de um improviso que acabou por definir o ponto de partida deste projeto. A música reflete o início do nosso trabalho em duo, explorando uma sonoridade mais eletrónica, que depois evolui para uma zona mais orgânica e emocional. A letra fala do regresso ao Serra, o coletivo criativo onde temos o nosso espaço de ensaio, um lugar inspirador que adoramos. Ao mesmo tempo, é também um desabafo sobre as feridas deixadas por relações tóxicas e sobre a tentativa de transformar emoções difíceis em algo bonito.

#2 Into the Gods

A segunda faixa, “Into the Gods”, afasta-se dos beats mais eletrónicos e mergulha numa energia mais intensa, guiada pela bateria e por synths poderosos. Aqui, a voz assume um tom mais firme e confiante. A canção tem duas partes distintas: uma mais acelerada, que expressa o amor pela mãe da minha filha, e outra mais contemplativa, que pede às forças divinas (sejam elas quais forem) orientações para lidar com a complexidade do amor, esse lugar onde o amor tanto pode ser leve como doloroso.

#3 Danilo

Danilo é o tema mais curto do disco e também um dos primeiros a nascer na banda. Surge de uma jam com o nosso amigo Danilo, onde a energia do momento guiou a criação da música. Com um baixo envolvente e batidas fortes, apoiadas em synths mais minimalistas, o tema traduz um estado de espírito em que ganhamos consciência de como, muitas vezes, mentimos a nós próprios sobre os hábitos que mantemos no dia a dia. Fala também da força e da perseverança necessárias para nos mantermos seguros e afastados dos excessos que nos desequilibram, assumindo ao mesmo tempo uma posição clara: recusar a velocidade com que o mundo se desenvolve e muda hoje, escolhendo um ritmo mais humano e sustentável para viver.

#4 Wake Up

Wake Up começa com um sample envolvente que nos coloca no centro do tema. À medida que a música avança, surge uma linha de baixo marcante e os saxofones preenchem o espaço sonoro, criando uma atmosfera intensa e pulsante. A letra, carregada de emoção, fala sobre autodestruição, excesso e vícios, mas também sobre o poder que temos em quebrar ciclos e começar de novo. Wake Up é um apelo à transformação: uma chamada para acordar, abandonar velhos hábitos e assumir o controlo do próprio destino. É uma faixa que cresce em energia, acompanhando a força das palavras e conduzindo quem ouve do caos à esperança, mostrando que a mudança está sempre ao nosso alcance.

#5 Superfly

Superfly foi o primeiro tema que criámos, logo no nosso primeiro encontro em estúdio. Começou de forma simples, com dois acordes e uma linha de baixo imediata, cheia de groove, que agarrou logo o tema. A partir daí, o tema foi crescendo naturalmente, inspirado por esta “mosca” meio perdida, sem grande noção da vida, até que o resto da letra apareceu.

Musicalmente, Superfly vive dessa base hipnótica de baixo, batida sólida e um espírito quase improvisado, onde a energia é sempre para a frente. A letra habita um universo meio surreal, povoado por personagens como Lúcifer e Asdrúbal, e fala de desejos impossíveis, fugas, obsessões e amores que nunca se concretizam. É um tema que junta humor, intensidade e estranheza, como se fosse a banda sonora de um sonho estranho passado num bairro qualquer, visto pela perspetiva dessa tal mosca super fly.

#6 Atomic Bomb

Atomic Bomb foi a última música a nascer e acabou por dar nome ao álbum. É um tema que fala de como é viver com uma espécie de bomba emocional dentro do corpo: uma fragilidade constante por dentro que, ao mesmo tempo, pesa e marca a parte física. A letra descreve a sensação de escrever o fim dos próprios dias a grande velocidade e a consciência de que essa forma de viver pode roubar qualidade de vida.

Musicalmente, é uma faixa que vai crescendo aos poucos, com várias vozes e harmonias que se vão somando e intensificando o lado emocional do tema. O saxofone entra como mais uma camada de tensão e beleza, ajudando a levar a música para um clima cada vez mais denso. Atomic Bomb fecha o álbum com um final forte e decidido, como uma última descarga de energia antes do silêncio.

Estas músicas ganharam ainda mais sentido ao vivo, especialmente no Festival A Porta e no Nascentes, onde sentimos que estávamos verdadeiramente a tocar em casa. Tocar estes temas em Leiria, no meio da nossa comunidade, amigos e gente que nos conhece, trouxe uma energia muito especial e fez-nos perceber que este álbum também pertence a este território e a estas pessoas.


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