Cada vidente de Óscares tem o seu estilo e a sua teoria quando toca a lançar as previsões. A não ser que se queira encarar tudo como um exercício aleatório, há sempre motivos pelos quais as nomeações são o que são e a maneira como se interligam.
A minha teoria unificadora, que muito poucas vezes me deixou ficar mal, é a da narrativa. Os Óscares são sempre uma narrativa, seja artística, pessoal ou política.
O que torna este ano particularmente espinhoso é a colisão de narrativas, pequenas e grandes, que culminam na maior do ano, a da afirmação feminina perante abusos da indústria.
Tal como no ano passado ser negro pediu uma afirmação contundente que originou uma surpreendente derrota de um filme com 14 nomeações – uma gigantesca anomalia estatística e até um contra-senso – este ano o caldinho está a preparar-se, mas visando outra causa política. A narrativa é a de que este ano é feminino, que se deve destacar o trabalho das mulheres em filmes, de que se deve abrir a porta a novas oportunidades. Ladybird, de Greta Gerwig, tem sido a obra bandeira desta discussão e Gerwig será, prevejo, levada em ombros, para uma nomeação que talvez não mereça depois de visto o filme, na minha opinião. Mas prever nomeações e vencedores destes prémios envolve sempre ter estes factores em conta e é por isso que nem preciso de ver os filmes em questão para lançar os meus palpites: há sempre tendências e regras, embora a maior seja também a mais óbvia e verdadeira: ninguém sabe de nada.
As minhas previsões, portanto, obedecem à maneira como vejo as coisas decorrerem este ano, assim como aos indicadores anteriores à cerimónia. Na verdade, a maior estranheza de 2017 é não haver ainda um favorito destacado, embora dois filmes se estejam a assumir nessa posição: The Shape of Water e Three Billboards outside Ebbing, Missouri. Ironias das ironias, ao que parece, os dois filmes abertamente políticos deste ano, o já referido Get Out e Ladybird, andam a anular-se um ao outro. E The Post, talvez a mais obviamente oscarizável obra do ano, um Trump bait óbvio de um titã do cinema norte-americano como é Spielberg, corre o risco de ficar de fora da maior parte das categorias. Ano bizarro, este, tempos esquisitos os que vivemos. Lançarei agora as nomeações que serão anunciadas amanhã, a meu ver. Colocarei apenas as das categorias principais e acrescento outras que são populares entre os leitores do site, como Filme de Animação, Documentário e Filme Estrangeiro. Apenas quando se justificar acrescento um comentário
MELHOR FILME
Comentário: O truque é sempre adivinhar quanto serão os nomeados, e normalmente o número é oito ou nove. Num ano tão dividido, nove parece-me ser o número final, embora a possibilidade de dez não esteja posta de parte: a maneira como os votos são contados desde 2010 permite isso. Há quem fale que embalado pelo clima, Wonder Woman pode ser nomeado. Como quero manter alguma sanidade mental, recuso-me a alinhar por essa bitola!
MELHOR ACTOR
Comentário: A dúvida está em se as acusações de assédio sexual a Franco terão aparecido a tempo de se repercutir nas suas hipóteses, que pareciam excelentes há um mês. Se assim tiver sido, Hanks será o mais óbvio candidato a substituí-lo.
MELHOR ACTRIZ
MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
MELHOR REALIZADOR
Comentário: Parece-me complicado deixar Spielberg de for a, e este alinhamento é o dos nomeados ao mais recente prémio da DGA, que habitualmente falha um ou dois nomeados por ano. No entanto, não vejo como qualquer um destes nomes pode ser deixado de fora. Só se Nolan saltar para Spielberg entrar. Arrisco-me a errar um, mas mantenho a minha previsão
MELHOR FILME ESTRANGEIRO
MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
MELHOR DOCUMENTÁRIO