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Se há tradição que não nos custa nada importar, é o Halloween! Dos jantares assombrados em Vilar de Perdizes aos clássicos de terror que vale sempre a pena rever, desculpas não faltam para nos empolgarmos no dia 31 de Outubro. A equipa Arte-Factos elegeu alguns dos melhores filmes para veres entre uma e outra dentada em bolo de sangue de morcego.
Este continua a ser um dos filmes mais influentes dentro do cinema de terror. Não só criou a noção de zombie moderno e as regras pelas quais se devem reger (com algumas variações), como conseguiu construir uma atmosfera de tensão pouco comum para a época. A história é simples mas eficaz, os mortos regressaram a uma espécie de vida e estão sedentos de carne humana.
Por infortúnio do destino, um grupo de pessoas fica fechado numa casa sem saber como sobreviver a esta ameaça. O baixo orçamento ajudou para o efeito, numa altura em que as cores vivas e o technicolor dominavam a tela, foi o preto e branco que se destacou. Curiosamente foram também essas as cores que demarcaram este filme pela forte crítica social. Pela primeira vez tínhamos um herói negro e nem sempre ameaça vinha dos não-mortos, aliás, grande parte dos “azares” surge à custa de desavenças dentro do grupinho. O filme continua eficaz e o final não perde o impacto que teve há 45 anos. José Santiago
Não sei se o Zombieland poderá ser o típico filme de terror para ver no Halloween. Aliás, nem sei se o qualificaria como “terror”, mas tendo zombies, vou assumir que pica pelo menos um dos requisitos necessários.
A história é a mesma de muitas outras: depois de um vírus atingir a maior parte da população seguimos viagem com um quarteto ainda saudável que se encontra e parte em busca de um local seguro. Quase nunca percebemos nestas histórias se este existe, mas pelo menos temos um Woody Harrelson que trocava o seu rim esquerdo por um Twinkie, a Emma Stone pré-La La Land, o Jesse Eisenberg cuja identidade se funde ainda hoje com a de Michael Cera e um cameo do Bill Murray. Motivos mais que suficientes para ver este divertido filme.
P.S. A minha primeira escolha teria sido o recente jogo do Benfica contra o Basileia, mas ainda não estou preparado para falar sobre isso. Hugo Rodrigues
Fã do género, Rodriguez homenageava assim o melhor cinema de horror, num ambiente diy, kitsch e retro. Na ruralidade do Texas uma arma biológica transforma os residentes locais em zombies. Num acidente provocado pelo pânico, Cherry Darling (Rose McGowan) perde uma perna, em que aplica uma prótese: uma arma de fogo, que a ajuda a liderar uma milícia que dissemina os zombies.
Diálogos recheados de clichés, over-acting, efeitos visuais de qualidade duvidosa e saltos incoerentes no argumento, tornam este filme uma alternativa para quem – como eu – não consegue enfrentar o pânico de títulos sanguinários. Isabel Leirós
The Shining é uma parte da nossa cultura popular, de tal maneira que há uns anos saiu um documentário, Room 237, dedicado apenas às várias teorias que existem sobre o significado do filme. No entanto, para lá de todas as especulações e significados, a obra de Stanley Kubrick é terror opressivo, simples de aparência, mas rebuscando em símbolos e na fractura de uma família o terror mais directo e básico que existe: um ser humano à solta, fora da civilização, isolado. Stephen King não gostou da adaptação, que foge à metáfora do alcoolismo presente no livro como bomba atómica das relações humanas.
Redrum. Here’s Johnny. All work and no play makes Jack a dull boy.
Mas na abordagem kubrickiana, o filme ganha no horror, em imagens inesquecíveis e motivos que perduram na memória: um elevador que solta sangue como as pragas do Egipto, um triciclo mais aterrador do que qualquer catana, e o desejo sexual em podridão. Desde a primeira panorâmica, como se um fantasma sobrevoasse terras americanas, que Kubrick nos prepara. Duas horas depois, ainda estamos a tentar saber para quê, mas a pensar duas vezes antes de nos instalarmos num hotel de montanha. Principalmente se soubermos que Stephen King baseou o Overlook Hotel num correspondente real… Bruno Fernandes
Vi a minha quota parte de filmes de terror enquanto crescia nos subúrbios, desde Nosferatu a Nightmare in Elm Street, sendo – para mim – The Shining o clímax do terror.
No entanto, este The Others ficou-me gravado pela sua densidade psicológica e cenas marcantes. É um filme asfixiante e assustador com um twist final que altera toda a perspetiva do que acabámos de experienciar. Amenábar dirige Nicole Kidman que é perfeita para os cenários nebulosos do filme, e é através dos olhos da sua personagem que somos sugados ao longo da história e vamos descobrindo os mistérios que aquela casa esconde. Há diversas cenas memoráveis, nomeadamente a “brincadeira” no quarto da criança e o livro dos adormecidos, uma metáfora para com a maneira como a nossa perspetiva nos condiciona. The Others é um filme onde o medo e aquilo em que acreditamos se fundem, que promete alguns sustos e uma interessante reflexão. Natália Costa
A minha sugestão dentro do género do terror – um que, admito, não me é particularmente familiar – é um filme que sempre me pareceu injustamente mal amado. Ora, a narrativa é-nos apresentada através de found footage, como se alguém tivesse recuperado a fita da câmara de filmar. No início, Micah suspeita que algo se passa na sua casa, e instala, à revelia da namorada Katie – ambos os actores usam os seus nomes verdadeiros, o que se torna ainda mais macabro -, uma handycam de vigilância durante a hora de dormir; depois, revê as imagens durante o dia. A história constrói-se a partir daí. A actividade paranormal registada é cada vez mais intensa, e a tensão sobe, paulatinamente. E, depois, há gente possuída, poltergeists à solta, e raios me partam se isto não é suficiente para arrepiar o mais estóico de nós.
Creio que as opiniões divergem na aplicação das cenas nocturnas, enquanto o casal dorme e nos deixa a sós como voyeurs. Há quem não aprecie este estilo low-paced e pouco espalhafatoso, de um horror baseado mais no suspense do que nos jump scares. Também os há em Paranormal Activity, mas sempre precedidos da tensão construída através da pouca actividade visual, complementada pelo óptimo trabalho de som que pontilha o silêncio com sons recuperados da casa. Um ranger de madeira aqui, uma corrente de ar ali, e o terror de parte e alimenta-se da nossa cabeça, e não do que nos é oferecido pelo filme.
É por isso, creio, que Paranormal Activity resulta (mas esqueçam qualquer uma das sequelas, que mais não fez além de denegrir este óptimo primeiro volume). Recomendo que o vejam sozinhos, bem aconchegadinhos na cama e com um som generoso. Não vale fazer batota e pôr no mute. Boa sorte. Alexandre Pinto
Alguns dos melhores filmes de terror de que se podem lembrar derivam a sua tensão e medo não dos factores sobrenaturais e dos monstros, mas sim de pessoas que são levadas ao extremo da sua sanidade, ou de situações normais amplificadas até se tornarem insuportáveis. The Shining é um exemplo óbvio, assim como os filmes de Hitchcock, e também podíamos citar O Exorcista, de William Friedkin. The Babadook é um espantoso exemplar de terror vindo de Austrália que respeita fielmente esta regra.
Conta uma história de perda, dor e depressão que envolve uma mãe viúva e o seu filho criança, e uma estranha criatura chamada Babadook, que demora a aparecer de facto, mas que quando surge, ameaça tornar-se numa referência no panteão de sustos: o seu visual é creepy, mas é a maneira como a realizadora Jennifer Kent o estabelece como projecção dos medos de uma mulher e de uma criança que o torna verdadeiramente assustador e torna toda a tensão, todo o medo, como nosso também. Ajuda a que o filme seja construído aos poucos, erguendo em primeiro a dinâmica entre personagens para tornar tudo o resto mais valioso e real.
Destaque para Essie Davis, que numa interpretação incrível dá à personagem principal uma credibilidade tal que quando a história se inverte, nada parece forçado ou fora do local. O maior horror vem normalmente da mente humana, e The Babadook tira partido disso: nós somos esse horror, e se no cinema de terror habitual isto é atirado à cara, aqui existe uma certa subtileza que nos rasteja pela pele e faz reviver esta história durante alguns dias a seguir ao visionamento. É essa a capacidade do bom cinema, onde o Babadook se coloca: está nas miradas e estás nos gestos, tenham cuidado. Bruno Fernandes
O ano de 2014 ficou marcado pelos 50 anos daquele que considero um dos filmes de terror japonês mais incríveis de sempre, a história de uma rapariga com um crescente interesse sexual e sentimental num guerreiro que vê os seus momentos de prazer serem constantemente interrompidos por um “demónio”.
Não é novidade para ninguém que o cinema de terror japonês sempre foi muito influenciado por lendas antigas, mitos e histórias de demónios criados pela própria cultura do país. Escusado será dizer que Onibaba tem tudo isso e ainda um trabalho de fotografia (enquadramento/iluminação) como já não se vê nos dias de hoje. Cláudia Andrade
O cinema italiano de terror sempre foi mais conhecido pelo valor estético do que narrativo. Não há maneira de contornar este facto e é fácil dar essa borla quando as imagens vêm de nomes como Lucio Fulci ou Dario Argento. Suspiria é o primeiro filme da Trilogia das Mães de Argento e conta a história de uma rapariga que se muda para uma escola de ballet, lugar onde começam a acontecer movimentações menos naturais e mortes com requintes de malvadez.
O filme decorre como um conto de fadas da Disney e é aí que reside todo o encanto. Não há quartos escuros, a palete de cores é estranhamente diversa e essa estranheza cria uma experiência imersiva e cativante. Todas as mortes a que assistimos são sadicamente elaboradas, não só com a tensão que as antecede, mas com o próprio homicídio, ficamos mesmo a duvidar da nossa sanidade por apreciar a beleza de um acto tão cruel. A verdade é que o filme é demasiado estilizado para ficarmos horrorizados com as imagens, mas o ambiente criado é de cortar à faca. A banda sonora a cargo dos Goblin continua a ser uma das melhores de sempre. José Santiago
Antes de mais, importa referir que John Carpenter é um dos mais importantes norte-americanos do final do século passado. Uma obra com títulos como Assault on Precinct 13, The Fog, The Thing, Big Trouble in Little China, They Live, In The Mouth Of Madness, Escape From New York, Escape From L.A. ou Halloween, fala por si própria.
Halloween conta a história de Michael Myers, que em criança esfaqueou a sua irmã mais velha até à morte, sendo preso numa instituição psiquiátrica até conseguir escapar, 15 anos depois. Regressa então à sua cidade natal no dia de Halloween, vestido com o icónico macacão azul e máscara inexpressiva para perseguir e assassinar adolescentes que poderiam ser confundidas com a sua própria irmã.
Provavelmente por ser um low budget – que viria a tornar-se num dos filmes mais rentáveis de sempre – é extremamente criativo e inventivo. A câmara de John Carpenter, quase sempre em movimento lento e transformando-se inclusivamente no olhar predador de Michael Myers, cria uma tensão asfixiante. Para essa tensão contribui a aterradora banda sonora original composta pelo próprio John Carpenter, criando uma mise-en-scène inconfundível, e que torna um filme de trama simples num clássico do género.
Halloween ajudou a catapultar em definitivo o slasher movie para as massas. Um género que bebeu inspiração a filmes como Psycho de Alfred Hitchcock (1960) ou The Texas Chainsaw Massacre (1974), que teve o seu auge por volta dos anos 80 com este Halloween, ou os infindáveis Friday the 13th e Nightmare on Elm Street e que foi depois magistralmente desconstruído por Wes Craven em Scream (1996). Carlos Vieira Pinto
O primeiro filme relevante sobre vampiros e uma produção das mais influentes de sempre – que nem precisou de som. Magníficas sombras, sombrios cenários expressionistas e teatrais expressões dos actores, presas das ratazanas e do negrume de um vampiro que mais parece personagem da noite urbana mais profunda. Todos dali beberam, de Dreyer aos Bauhaus, passando por João César Monteiro.
Com uma só câmara, Murnau e equipa criaram um filme onde cada plano é rico em pormenor e em carga emocional. O conde Orlok de Max Schreck será sempre uma praga com pernas e dentes afiados, o Thomas Hutter de Gustav von Wangenheim um gajo normal à procura de fazer negócio que se vê atirado para o convívio de um tarado e a Ellen Hutter de Greta Schröder uma heroína que se sacrifica para eliminar o orelhudo de olhos vidrados que abre portas à jedi. Ele não mói, mas mata. José Raposo
Antes de prosseguirmos esta viagem no comboio assombrado, sugiro animação para aligeirar o ambiente. Não será um filme de terror (pelo menos, não para um adulto), mas é terrivelmente delicioso, não estivéssemos a falar de uma história saída da mente torcida de Tim Burton, o pai do cinema de terror para crianças (esta será apenas uma das muitas formas de descrever o seu cinema). Esta história ‘dois em um’ (que é adequada tanto para o Halloween como para a época natalícia) conta a história de um homem-esqueleto de bom coração, líder da cidade onde todos os anos se prepara o Halloween, que cansado dos gritos, dos sustos, dos fantasmas e dos mortos-vivos decide um dia apropriar-se da organização do feriado do Natal. As suas intenções são boas, as consequências potencialmente… assustadoras.
Indisponível à época para filmar este projecto, a realização foi entregue a Henry Selick, mestre da animação stop-motion, mas Burton encarregou-se de deixar o seu cunho em todos os aspectos da produção: a história vem de um pequeno poema que Burton escreveu em 1982, depois de observar a desmontagem de uma montra decorada para o Halloween, para montagem da montra de Natal; o argumento do filme foi escrito a partir do seu poema, a banda-sonora é de Danny Elfman e foi ele que desenhou todas as personagens. O projecto, que inicialmente a Disney considerou sombrio, acabou por estrear em 1993, mas o resultado final era ainda demasiado negro para estrear com a chancela da Disney. O sucesso crítico e financeiro do filme fez com que a produtora se arrependesse e a versão 3D estreou em 2006, já com a sua chancela. The Nightmare Before Christmas é hoje o ‘filme de Halloween’ por excelência e um objecto de culto para cinéfilos de todas as idades. Edite Queiroz
Este é um daqueles filmes que prometem e cumprem com uma série de sustos de arrepiar! À medida que o filme se desenrola, vamos compreendendo melhor de onde vêm aquelas criaturas e o porquê da sua existência. Brilhantemente dirigido por M. Night Shyamalan que nos transmite exactamente aquilo que quer que o espectador veja quando assim o deseja, fazendo-nos sentir que aquilo em que acreditamos define a nossa realidade e, consequentemente, os nossos medos! Às vezes é preciso sermos cegos para conseguirmos enfrentar aquilo que não conseguimos compreender com os olhos. O realizador tem aqui um trabalho de mestria, quer a nível de direcção de actores, quer a nível de imagem: o uso da cor ao longo do filme é acutilante, sobretudo no confronto final que só não é o ponto alto, devido ao momento que se lhe segue de imediato, quando descobrimos que a vila é mais do que o que imaginávamos. Imperdível neste Halloween! Natália Costa
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)