12 Meses 12 Filmes

por Natália Costa em 14 Janeiro, 2018

Como devoradora de cinema que sou, um filme por mês parece-me substancialmente pouco, mas com a tomada de pose – cada vez mais feroz – por parte da televisão, revisitar alguns filmes é algo que fica no fundo da lista de prioridades artística. Assim, este desafio “12 meses, 12 filmes” propõe que se revisitem alguns títulos à cadência de um por mês.

Os nomes escolhidos não são os melhores filmes de sempre (e o que é esse conceito abstracto de os melhores filmes de sempre, que vai mudando levemente no nosso coração à medida que a vida avança?) e também não diria que são os meus 12 filmes preferidos (embora todos eles em um ou outro momento foram dos meus predilectos e todos tenham um lugar especial no meu coração). Esta lista é mais: que filme se adaptaria a cada mês, a cada estação? Que filme me apeteceria reviver em Janeiro, Junho ou em Outubro? Nem posso dizer que seja o filme do mês, pois – mesmo assim – a lista seria mais extensa. No fundo, são os nomes que me vieram à cabeça no momento em que o desafio me foi lançado, de entre a lista interminável de filmes maravilhosos, divertidos, apaixonantes e inspiradores que já tive a oportunidade de ver. E é esta a capacidade do cinema: divertir-nos e fazer-nos sonhar! Por isso, venham comigo: desafio-vos a verem ou reverem cada um destes filmes e comentarem mês a mês qual a marca que vos deixam desta vez. Assim, aqui fica a minha proposta para 2018:

Janeiro: Braveheart

O que mais dizer sobre Braveheart, este épico intemporal que apaixonou e apaixona tantos espectadores? Mel Gibson no seu melhor, quer como ator, quer como realizador! Indubitavelmente um dos meus filmes preferidos e que melhor maneira de abrir o ano do que com uma obra heróica e inspiradora que nos impulsione a mantermos as nossas resoluções de ano novo bem firmes?

Fevereiro: Groundhog Day

Este filme tem lugar no dia 2 de Fevereiro, o dia da Marmota ou das previsões climatéricas para a estação que se avizinha. Vi este filme no cinema – ainda eu criança – e nunca me esqueci. Pensava nele muitas vezes, mas apenas o revi há umas semanas, catapultando-o de imediato para um dos meus favoritos. Bill Murray (mais uma vez dirigido por Harold Ramis) está imperdível brilhando ao seu mais alto nível como sempre nos habituou, Andie McDowell está adorável como sempre! O Feitiço do Tempo, como lhe chamaram em português, é a perfeita alegoria para com a vida: nada como dar, para receber!

Março: The Shawshank Redemption

Outro dos meus “all time favourites”. Não é à toa que The Shawshank Redemption dirigido por Frank Darabont se mantém firme no topo do IMDB, pois é um dos filmes mais inspiradores de sempre. A proposta perfeita para Março, quando a Primavera teima em não querer chegar e é bom revisitar uma história de esperança e determinação, que nos relembra que a música está sempre dentro de nós, mesmo quando não vemos a luz ao fundo do túnel.

Abril: Sunday in New York

Eu sou viciada nesta deliciosa comédia, que para além do argumento irrepreensível em cada gargalhada, tem uma banda-sonora adorável. As peripécias de Jane Fonda, Rod Taylor e Cliff Robertson dirigidos por Peter Tewksbury são do melhor que o cinema já viu, conseguindo algumas das sequências mais hilariantes de que há memória. Sunday in New York é o filme perfeito para todas as estações, mas particularmente gostoso num domingo chuvoso de Abril.

Maio: Lost in Translation

E eis que chega Maio, por excelência o mês da Primavera. E esta estação é – de imediato – associada a flores como as belas cerejeiras japonesas. Lost In Translation está muito longe desse Japão das cerejeiras, mas é o filme que me ocorre para a Primavera, em que um certo conformismo e melancolia subjacentes ao filme contrastam com as cores e euforia que a Primavera traz consigo. Sofia Coppola dirigiu Bill Murray e Scarlett Johansson numa obra entre o kitschy e o místico, onde os contrastes culturais são vincadamente notórios e claustrofóbicos. Esta amizade improvável entre os protagonistas é o motor de todo o filme, trazendo-nos não só cenas divertidas, como momentos duma lucidez acutilante.

Junho: Big Fish

Um dos filmes mais belos de sempre que nos relembra que não é o que vivemos que realmente importa, mas a maneira como contamos essa história a nós próprios, como escolhemos olhar para o que nos aconteceu e relembrar o que nos trouxe até aqui. O filme acompanha o inspirador percurso de Edward Bloom, um sonhador que escolhe ver o lado belo do mundo e focar-se na gratidão, na magia, no esplendor que todas as vivências têm para nos oferecer ou não fosse este um filme de Tim Burton. Big Fish transporta-nos para outras paragens e relembra-nos a eterna capacidade que o cinema tem de nos fazer sonhar, uma sensação que rima na perfeição com as noites de Junho!

Julho: The Thin Red Line

Chamaram-lhe “um poema em forma de filme”, epíteto que assenta na perfeição numa das obras mais bonitas e completas que já vi: The Thin Red Line. Está recheado de atores talentosos guiados pela mão dum realizador feérico: Terrence Mallick. A imagética é marcante: as ilhas do Pacífico, um pedaço de paraíso na Terra, assombrado por um inferno criado pelo Homem. Essa dicotomia está presente ao longo de todo o filme, sobretudo no olhar, da que é para mim, uma das melhores personagens do cinema: o Soldado Witt, acompanhado pelos coros da Melanésia que adornam algumas das cenas com vozes angelicais, num contraste inesquecível. Uma das mais belas e profundas experiências cinematográficas, sobre a ténue barreira entre a vida e a morte, sobre estar vivo ou adormecido, sobre a capacidade de absorver a beleza, mesmo no meio da escuridão. Porquê Julho? Porque todo o cenário desta bela obra nos catapulta de imediato para o Verão e para um espaço sem tempo, algo que é uma simbiose com o pico das noites da estação que convida a uma sessão de cinema ao ar livre. Imperdível!

Agosto: El Secreto de Sus Ojos

Agosto é o mês das férias por excelência e, que melhor viagem do que esta fantástica obra de Juan José Campanella para nos transportar para um outro tempo, uma outra realidade, onde por muito diferentes que as épocas e as pessoas sejam, testemunhamos que as emoções humanas são idênticas ao longo do esplendor da sua história? Campanella dirige Ricardo Darín, Soledad Villamil e Pablo Rago de forma magistral. A investigação de um crime é o rastilho para uma história que se desenrola de forma divertida, mesmo tendo momentos comoventes como pano de fundo. El Secreto De Sus Ojos é indubitavelmente um dos meus filmes preferidos, desde o primeiro momento, e um daqueles que sei que resistirá ao grande juiz que o tempo é, vindo a ser recordado como uma das obras mais marcantes da sétima arte.

Setembro: Dead Poet’s Society

Setembro representa o regresso às aulas. Dead Poet’s Society dirigido por Peter Weir continua a ser a melhor homenagem ao mundo lectivo. O Professor Keating é aquele Professor que todos tivemos em uma ou em outra pessoa ou que todos gostaríamos de ter tido ao longo da nossa formação académica e humana. É um ser que nos inspira a sonhar e nos catapulta para o melhor de nós, alguém que tem especial impacto na mente da juventude, quando ela está justamente mais aberta e receptiva. Quem mais o poderia interpretar senão Robin Williams, que parecemos ainda ouvir a murmurar “What will your verse be?”?

Outubro: Casino Royale

E eis que o ciclo se repete e entramos no Outono. Muitas vezes ainda Verão no sul da Europa, muitas vezes já Inverno no norte da Europa: Outubro representa a transição por excelência e nada como celebrar esse papel do que com um filme de ação. Os filmes de ação são viciantes na sua adrenalina contagiante, que Casino Royale dirigido por Martin Campbell incorpora numa perfeição majestosa. Esta é também a obra que nos revela o porquê que James Bond é a personagem que é e poderia ser por si só – e é por si só – uma excelente película totalmente desvinculada da saga. Cada pormenor foi definido ao milímetro e conseguimos aqui um dos que poderá ser o melhor filme de ação de todos os tempos, que abre com uma sequência de tirar o fôlego mesmo aos espectadores mais ávidos. Perfeito para entrar na estação das folhas caídas com um pico de energia!

Novembro: Victor Victoria

E chega um dos meses mais cinzentos e – consequentemente – longos na sua lentidão. Novembro é um mês sombrio e, habitualmente, chuvoso que nos pede uma certa leveza. Que melhor maneira de o aligeirarmos do que com gargalhadas intensas em que este Victor Victoria é mestre? Temos aqui uma das melhores comédias da história da sétima arte (ou não fosse este um filme escrito e realizado por Blake Edwards) com uma energética Julie Andrews em todo o seu esplendor, acompanhada por James Garner e Robert Preston numa coreografia harmoniosamente divertida.

Dezembro: Jurassic Park

E – finalmente – chega o mês de Natal! Há uma série de títulos que me vêm à cabeça de imediato, desde velhos clássicos a clássicos de ação dos anos 80. Mas pensar em Natal é habitualmente pensar em infância e o filme – por excelência – que fez uma geração sonhar foi Jurassic Park. Steven Spielberg sempre teve a capacidade de nos fazer acreditar em milagres e em tornar universos fantasiosos uma realidade, com Parque Jurássico traz os dinossauros à vida, deslumbrando miúdos e graúdos. Esta é uma das obras que mais associo à minha infância e recordo-me, como se fosse ontem, ter ido assistir a esta experiência no cinema com os meus pais. É, assim, a minha escolha para celebrar Dezembro e encerrar este ciclo cinematográfico.

Como se vê, muitos filmes que poderiam estar nesta lista acabaram por ficar omissos, tão variados como The English Patient, Paris, Texas, Almost Famous, The Cell, Rush, Wild Strawberries, Die Hard; mas todos eles com um papel relevante no meu coração e na minha formação como pessoa. Talvez fiquem para uma lista do próximo ano! Até lá: Feliz 2018 e Bons Filmes!


sobre o autor

Natália Costa

"Sometimes nothing can be a real cool hand." (Ver mais artigos)

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