Reportagem


Suede

Canções intemporais de regresso a Paredes de Coura 20 anos depois

Praia Fluvial do Taboão

17/08/2019


© Hugo Lima / Vodafone Paredes de Coura 2019

Os Suede são uma banda peculiar. Bastiões da britpop a par dos Blur, Oasis, Pulp e Supergrass (que por ali tocaram há uma década), tiveram sempre o condão de querer alinhar por outro rumo; afinal de contas, são uns gajos bem parecidos e as letras reflectem-no – arriscamos dizer que queriam ser os Duran Duran dos anos noventa, braço à volta do ombro de supermodelos incluído.

Tiveram por membros malta como Bernard Butler (pedra angular dos dois primeiros álbuns) e Justine Frischmann (dos Elastica e musa de Damon Albarn uns bons anos), acabaram em 2003 e entretanto voltaram. Brett Anderson e Neil Codling são dois gajos com bom aspecto (dada a idade), mas se o primeiro estava possuído, o segundo manteve-se sempre sóbrio. Da presença em Coura há precisamente vinte anos para esta foi um salto temporal que provou o bom envelhecimento físico da banda e das suas canções.

Anderson era, é e será sempre o fulcro dos Suede. Deve ter feito um pacto faustiano-wildesco com o Diabo, que continua igual ao que era há vinte anos, mesmo depois do vício do crack. E revela toda a sua plenitude em canções como We Are the Pigs, peça glam nuns anos noventa que só queriam varrer essa fase para debaixo do tapete e abraçar a depressão chic da heroína oriunda de Seattle.

Neste formato grandes êxitos foi decorrendo o concerto. Mas o grande hit da noite foi mesmo Anderson, que enchia o palco, rebolava, suava, ajoelhava (UEPÁ), cantava nas grades e virava a câmara de vídeo da produção para si mesmo que nem um Narciso de beira-Coura. It Starts and Ends with You, de Bloodsports, disco de regresso da banda após dez anos de fecho de actividade, poderia muito bem ser só sobre si.

Dos Suede na sua discoteca particular este escriba só tem Coming Up, primeiro trabalho sem Butler e de veia pop. Trash foi catapultada para a setlist e é um retrato fiel dos Suede: banda de gente gira que toca umas guitarradas e saca as melhores críticas, gajas, discaços e festas onde feiosos não entram. Viram o que dissemos sobre quererem ser os Duran Duran de noventas? E é uma canção do caraças, mas dentro do álbum não consegue bater Beautiful Ones.

Da mesma temática (basta ver o título), é de métrica fabulosa e aquele “la la la la” final é uma excelente maneira de fechar o festival. Nada mais vimos nem ouvimos dos Suede (mas dizem que New Generation de Dog Man Star foi bonita de ver), que a fome apertava, havia despedidas para fazer e malas para carregar. Honestos e suados, da nossa parte.


sobre o autor

José V. Raposo

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