Reportagem


Foo Fighters

Se tudo pudesse ser assim tão bom para sempre

Passeio Marítimo Algés

07/07/2017


© Hugo Macedo / Everything is New

Toda a gente devia ver um concerto de Foo Fighters pelo menos uma vez na vida. Sim, é uma dessas coisas. A instituição mais consensualmente adorada do rock americano não consegue dar um mau concerto mesmo que queira. No entanto, não há uma sombra de complacência ao vivo. Quando os Foo Fighters entram em palco, entram com tudo.

Saibam o seguinte, o tipo que escreve estas linhas pode ou não estar afónico de tanto cantar, pode ou não ter chorado como uma madalena feliz durante a “Best Of You”, e pode ou não achar que os Foo Fighters são a melhor banda do mundo.

Pode.

Ou não.

Portanto, leiam-no com uma colherzinha de sal. Mas saibam que não esteve sozinho. Nem sabemos se podemos falar de parcialidade quando parece só haver um lado da história para ser contado: os Foo Fighters vão dar o melhor concerto do NOS Alive em qualquer edição para que estejam convocados. Foi assim em 2011, voltou a acontecer em 2017. Perguntem a quem foi.

Já estamos alguns minutos para lá da meia-noite quando as movimentações em palco sossegam e já só faltam os seis homens do momento (agora que o teclista Rami Jaffee é membro oficial) entrarem em palco. A antecipação é tremenda e o catraio em palco a puxar pelo público não está a ajudar ninguém a serenar.

E então ouve-se uma guitarra fora de palco e, a correr, surge um Jesus asneirento preparado para converter o que não precisa de conversão. “Hey!” é a primeira coisa que ouvimos de Dave Grohl. Juntamente com a variação “Heeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeey!” é capaz de ser a palavra mais vezes repetida, servida e devolvida como numa partida de ténis, que se ouviu durante a noite. Os restantes Foo Fighters pisam o palco e é um “partida, largada, fugida” para que se oiça “All My Life.”

Ao NOS Alive vieram os Foo Fighters em formato “best of”. “Times Like These” e “ Learn To Fly” completaram a tríada inicial e o entusiasmo em participar do lado do público percebia-se. Seis anos, pelos quais Dave Grohl pediu encarecidamente desculpa, é muito tempo e o público aproveitava qualquer riff, qualquer melodia para se fazer ouvir.

Aliás, vamos falar sobre isso? Fast Forward para o fim do concerto e os milhares de fãs decidem que querem ser eles a dar espétaculo. “E salta, Dave, e salta, Dave, olé, olé,” garante o visado, será um hit single – na versão dos Foo Fighters chamar-se-á “E fan, fan, fan, fanfan, fanfan”. Foram largos minutos antes do espetáculo poder resumir para a sua inevitável conclusão porque ninguém queria deixar o concerto acabar. Foi preciso um “Shut up motherfuckers” sem malícia para sossegar os ânimos.

E pensar que este momento podia não ter acontecido. Ainda no aeroporto de Madrid, partilhou Grohl, os Foo Fighters estavam retidos por uma tempestade. “Then the sun came out, and the rain slowed down,” e tudo estava bem.

A genuína felicidade de ali estar era contagiante. Em palco, Dave Grohl faz trinta por uma linha para que se partilhe da energia que este homem, a roçar os 50, ainda demonstra. O estado de graça do “tipo mais simpático do rock” é evidente, não há piadola ou ameaça inconsequente que não faça rir. O epíteto explica também a disponibilidade em colaborar que os Foo Fighters granjearam. Ontem calhou a Alison Mosshart ser parelha para “La Dee Da”, tema ainda por lançar.

“Run” seria a segunda canção do álbum por estrear e antevê-se que tenha conquistado um lugar cativo na setlist. Com um catálogo já invejável de singles podia ser fácil cair em repetição, felizmente a preocupação em manter as coisas frescas, com interlúdios musicais durante os temas, devaneios por terras de Queen e Ramones – +1 pela corda partida em Blitzkrieg Bop e rápida troca para uma guitarra igual (fácil!) -, novas canções e repescagem de velhas glórias (olá, “This Is A Call) garantem que nenhum concerto é igual ao outro.

Não sabemos onde perdemos a voz. As frases de ordem de cada tema dos Foo Fighters ajudam à catarse. Terá sido a perguntar se disséssemos que não somos como os outros em “The Pretender”, a gritar “I never wanna die” durante “Walk”, a dar kudos aos nossos heróis em “My Hero.” Quando “Best Of You”, melhor momento da noite, Dave deixou cair a frase em tom de ameaça “ If you have a voice, and I have a voice” então é para cantar.

Se ao menos tudo pudesse ser assim tão bom para sempre. Foi nesta altura que se fez de tudo para que não acabasse o concerto nunca e fazemos fé que a devoção do público, desconcertante para os músicos, os convença, de uma vez por todas, a virem cá em nome próprio.

Ouve-se a melodia em drop D dos Foo Fighters. A “Everlong” anuncia o fim. Não se põe a questão de tudo poder voltar a ser assim tão bom outra vez. Vai ser sempre. Até com a “Wheels” pelo meio (como é que um tipo anda neste mundo sabendo que morre antes de ouvir a “Hey Johnny Park!” ao vivo enquanto este lado B glorificado tem lugar no plantel?), foi um concerto perfeito.

Agora, podemos não esperar mais 6 anos?

Grato.


sobre o autor

Jorge De Almeida

Partilha com os teus amigos