Festival SEMIBREVE decorre esta semana
por Alexandre Junior em 21 de Outubro, 2019

Num destes dias, jantei com um amigo que não via há algum tempo. Por si só, isto não é extraordinariamente relevante, e muito menos motivo de notícia — mas aconteceu, a dada altura, falar-lhe do Festival SEMIBREVE, a acontecer nesta próxima semana, com epicentros no Theatro Circo e gnration (e réplicas em outros vários pontos da cidade). “É um festival de música electrónica”, dizia eu, “mas não a electrónica que estás a imaginar”. Por culpa da minha imprecisão, seguiram-se várias interpretações de música electrónica com recurso a onomatopeias e outras ginásticas vocais; resta-me a sensação de termos ficado ambos menos esclarecidos quanto à natureza deste festival. Bastaria “música experimental de vanguarda”?
O que procurava, por exemplo, Morton Subotnick em 1967, e que ouvimos várias décadas depois em Silver Apples of the Moon? Um disco seminal e essencial no trabalho de sintetizadores Buchla, e que se descreve, de forma sucinta e extremamente redutora, como uma série de impulsos polifónicos — e que inevitavelmente nos provoca questões fundamentais sobre o que é, afinal, música? Ano após ano, o Semibreve dá palco a propostas do género; ano após ano, vamos reconsiderando a nossa postura perante os limites e possibilidades da arte exploratória e digital.
Além do reencontro com o australiano Oren Ambarchi, que há um par de anos, e apenas acompanhado por uma guitarra, deu um dos melhores concertos a que já assistimos, destacam-se os espectáculos de Suzanne Ciani, referência da música new age idílica e planante, característica dos anos 80, Deaf Center, que trarão proposta de silêncio e detalhe, ou Félicia Atkinson, que provavelmente apresentará The Flower and the Vessel, disco que alberga tudo entre a spoken-word à música electroacústica.
Como habitualmente, os concertos dividem-se entre as salas do Theatro Circo e, madrugada fora em sonoridades mais incisivas e dançáveis, no gnration; para estes dois, infelizmente, os bilhetes estão em larga medida esgotados, mas, se forem rápidos, talvez consigam ainda entrada no Sábado ou no Domingo; mas há, além destes, alguns espectáculos e instalações abertos ao público: basta que se informem nos horários, aqui disponíveis.
Por mais um ano, o SEMIBREVE é o epicentro de experiências marginais e exploratórias. Que o seja assim durante muitos anos mais!