“Vertigo – A mulher que viveu duas vezes” de Alfred Hitchcock no CCB

por Arte-Factos em 10 Abril, 2020

Vertigo – A mulher que viveu duas vezes de Alfred Hitchcock (1958) é exibido no Centro Cultural de Belém já no próximo dia 3 de Maio.

James Stewart interpreta Scottie, um ex-detective acrofóbico, contratado para seguir Madeleine (Kim Novak), a mulher suicida de um velho amigo. Depois de a salvar uma primeira vez, Scottie fica cada vez mais obcecado com a bela e perturbada jovem. Porém, a fobia de Scottie vai impedi-lo de salvar Madeleine novamente, e assiste inconsolável ao seu suicídio. Pouco depois conhece Judy, em quem revê obsessivamente Madeleine. As enigmáticas e inquietantes semelhanças entre as duas mulheres vão acabar por revelar um terrível segredo…

Com Vertigo, Hitchcock adapta a obra D’Entre les Morts, dos franceses Pierre Boileau e Thomas Narcejac, escrito em Paris no decorrer da Segunda Guerra Mundial. O realizador François Truffaut chegou a insinuar que os autores teriam escrito este livro já com a intenção de o apresentar a Hitchcock e, o que é certo, é que a Paramount Pictures contactou os autores ainda antes de existir uma edição inglesa do romance. Na adaptação, Hitchcock e a sua equipa de argumentistas transpuseram a ação do livro para a cidade de São Francisco e alteraram um pouco a sequência de eventos, nomeadamente a revelação do segredo por trás de Judy, pois Hitchcock considerava que a cadência dos acontecimentos no romance tornava o enredo menos apelativo.

Uma das razões que colocou Vertigo na história do cinema foi o inovador efeito visual que ficou eternizado como o vertigo effect (ou Dolly Zoom). Trata-se de um efeito original obtido pelo gradual afastamento ou aproximação da câmara em relação ao objeto que está em primeiro plano, enquanto que, em simultâneo, uma lente faz zoom num movimento inverso sobre esse mesmo objeto. Sem nunca se alterar o tamanho nem a relação do objeto no quadro do plano, a perspetiva do fundo da imagem distorce-se, parecendo achatar-se ou ganhar mais profundidade. É este o efeito de imagem usado quando Scottie olha para baixo desde o topo da torre, para acentuar a altura e reproduzir o efeito de atordoamento de uma vertigem. Além de se tornar uma imagem de marca de Hitchcock, o Dolly Zoom tornou-se um dos efeitos visuais mais recorrentes no cinema.

O filme combina o talento de Hitchcock para criar tensão psicológica com uma estética inconfundível. Tal como tantos dos seus filmes, Vertigo é dominado pelo voyeurismo constante, construído num exercício permanente do olhar: o olhar escondido que persegue, tenso, atento aos detalhes, que deduz cenários e explicações e que transforma a verdade na ilusão daquilo que se quer ver. É esta a pulsão de Scottie, sempre oscilante entre a lucidez e a insanidade, entre a culpa e a inocência, que guia o espectador ao longo do filme e que, por isso, o torna cúmplice e testemunha de toda a história.

 

 

Em Vertigo, Hitchcock joga também com o espectador quando deixa em aberto o seu final, num mise-en-abyme da queda da torre, terminando com Scottie a olhar para baixo, para o corpo de Judy, na vertigem da repetição da queda de Madeleine. É nesta repetição e paralelismo entre as situações que Hitchcock deixa espaço para a especulação e imaginação do espectador e assim permite que seja ele a dar continuidade à história narrada.

Em 1958, a receção de Vertigo não foi tão calorosa como de outros filmes de Hitchcock, recebendo críticas negativas pela fragilidade do enredo e do argumento. Conseguiu apenas duas nomeações para os Óscares (Melhor Som e Direção de Arte).

Contudo, o tempo e as reposições do filme foram sublinhando a sua originalidade técnica e estética que inscreveram Vertigo na história do cinema como um dos filmes mais definidores da obra de Hichcock. Não é, por isso, de surpreender que, passados tantos anos, Vertigo continue a ser considerado por muitos a obra-prima de Hitchcock e a ser uma referência recorrente nas listas dos melhores filmes de sempre, como a que a revista britânica Sight and Sound organizou em 2012, onde Vertigo foi eleito como o melhor filme de todos os tempos por mais de centena e meia de críticos de todo o mundo.

 

 

Temporada de cinema do Centro Cultural de Belém 2019/2020
3 Maio 2020: Vertigo – A mulher que viveu duas vezes (1958)
7 Junho 2020: A conquista do Oeste (1962)
20 Outubro 2019: Apocalypse Now (1979)
1 Novembro 2019: O resgate do Soldado Ryan (1998)
29 Dezembro 2019: My Fair Lady (1964)
26 Janeiro 2020: Morte em Veneza (1971)
22 Março 2020: Rebel without a cause (1955)

Fonte: site oficial do CCB » aqui «


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A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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