Cinalfama regressa em julho com cinema ao ar-livre

por Arte-Factos em 6 de Junho, 2025

O Cinalfama – Lisbon Film Festival (LIFF25) realiza-se de 21 a 25 de julho e apresenta uma programação internacional com filmes premiados e obras em estreia absoluta, com sessões no Museu do Fado (durante o dia) e nas Escadinhas de São Miguel (à noite), com entrada gratuita.

Na 4.ª edição o Cinalfama conta com a exibição de: Sensible Soccers: Manoel (2024), de David Matias e Vasco Gil, um documentário em torno do processo de criação do álbum Manoel (2021) – um disco com composições inspiradas em Douro, Faina Fluvial (1931) e O Pintor e a Cidade (1956), de Manoel de Oliveira; Un Projet Fou (2020), de Jean Marc Bourillon, uma aventura entre pacientes de um centro terapêutico que, movidos pelo amor ao cinema, criam um filme a partir dos poucos recursos que têm ao dispor; Masmelos (2019), de Duván Duque Vargas, que acompanha as vivências de Melanie, num período em que o seu pai enfrenta acusações de corrupção; e Poupées de Chair (2022), de Florence Rochat, uma curta-metragem que regista os bastidores da indústria automóvel e denuncia abusos contra mulheres no acesso a este mercado de trabalho.

Em 2025, o festival conta com o Brasil como país convidado, com o apoio da Embaixada do Brasil em Lisboa, reforçando o seu caráter internacional e transatlântico.

Nas palavras de João Gomes, Diretor do Cinalfama:

Queremos continuar a fazer do Cinalfama um espaço onde o cinema é vivido de uma forma inteira — no bairro, na rua, entre vizinhos e visitantes. Este ano voltamos a abrir as portas à experimentação, à memória e ao risco.

O Cinalfama volta a apostar em categorias consideradas menos convencionais, como Micro & No Budget Film e Médias-Metragens, além de premiar bandas sonoras, guiões e o melhor da animação (na secção Animalfama). O Grande Prémio Cinalfama permanece como prémio do festival.

O festival desenvolve-se em torno de filmes e histórias de comunidade. Este ano, mantém a linha de programação com projetos novos e de continuidade:

EDUCAÇÃO CINEMATOGRÁFICA E OLHAR CRÍTICO – Minuto Lumiére

Uma das apostas desta edição é a aproximação do festival ao universo escolar, através da iniciativa “Minuto Lumière”, desenvolvida em parceria com o Plano Nacional de Cinema.

Inspirado nas primeiras experiências do cinema, este exercício convida alunos do ensino básico e secundário a filmarem, com os seus telemóveis, um plano fixo e contínuo de aproximadamente um minuto — sem cortes nem movimentos de câmara — captando cenas do quotidiano. A proposta estimula a atenção, o silêncio, a escuta e a composição do olhar, promovendo uma relação crítica com a imagem e o tempo. Como refere João Gomes, “num tempo saturado de imagens e estímulos imediatistas propomos a utilização do telemóvel como gesto de desaceleração, de escuta e atenção – uma inversão: o telemóvel como instrumento de inscrição consciente no espaço vivido e não de alienação do mesmo”.

Quatro agrupamentos escolares da Grande Lisboa aderiram ao projeto, que resultou em dezenas de curtas observações do mundo — feitas a partir de pátios, janelas, ruas e gestos comuns. Estes trabalhos serão apresentados em estreia no LIFF25. Um trabalho que está a ser iniciado este ano em Alfama.

MEMÓRIA E IDENTIDADE – Recolha de Histórias e Oralidades de Alfama

Desde 2022, o Cinalfama desenvolve um arquivo audiovisual comunitário com quem habita o bairro, que documenta memórias, histórias de vida, canções e pequenos relatos do quotidiano.

Em 2025, o projeto continua a crescer, recolhendo novos testemunhos, cenários ou personagens, onde a sensibilidade e a “lente” de cada cineasta são imprescindíveis no registo único e irrepetível de cada captação.

“Fragmentos destes registos são apresentados no festival, criando pontes entre passado e presente — e colocando os habitantes no centro da narrativa sobre Alfama. Alfama não é um cenário — é personagem. Ouvir quem cá vive é uma forma de resistência e celebração.”, refere o diretor do festival. Esta ação dialoga diretamente com o City in Film Award, prémio do festival que celebra filmes que refletem sobre a vida urbana, o direito à cidade e os modos de habitar.

PERIFERIAS DIBUJADAS – Alfama pelos olhos das crianças

Em 2025, o festival inaugura uma parceria internacional com o projeto Periferias Dibujadas, uma iniciativa que junta investigação urbana, educação artística e criação coletiva com crianças, com passagens anteriores por cidades como Medellín, Montevideu e Barcelona.

À semelhança do que já havia sido feito noutro bairro lisboeta, numa metodologia já testada pela entidade parceira, crianças do bairro de Alfama participam num laboratório criativo de observação e apropriação simbólica do território. Através de caminhadas, desenhos, entrevistas, gravações de som e pequenos vídeos, os participantes constroem um mapa audiovisual do bairro, feito a partir das suas memórias, vivências e desejos para o futuro.

Esta colaboração articula-se diretamente com os projetos Minuto Lumière e Recolha de Oralidades, formando uma rede intergeracional de escuta e criação, que liga crianças, jovens e adultos numa mesma constelação narrativa.