Cinalfama anuncia programação completa
por Arte-Factos em 3 de Julho, 2025

O Cinalfama – Lisbon International Film Festival (LIFF) regressa de 21 a 25 de julho, às Escadinhas de São Miguel e ao Museu do Fado, em Alfama, Lisboa, para a sua quarta edição. Com entrada gratuita, o festival volta a celebrar o bairro e o cinema independente.
Entre os destaques desta edição estão Crazy Dream (França), uma reflexão sobre a persistência do sonho em meio à institucionalização psiquiátrica; Cura Sana (Espanha), que retrata com delicadeza o afeto como resposta à violência familiar; e The Insides of Our Lives (Países Baixos), um retrato poético da separação de duas amigas num continente marcado por fronteiras.
O Cinalfama abre também espaço para obras que desafiam os limites da linguagem cinematográfica, como Psychonauts (Croácia), onde distúrbios mentais ganham forma física, e Lichens Are the Way (Chéquia/Eslováquia), um documentário visualmente deslumbrante que propõe uma metáfora ecológica e filosófica através da existência dos líquenes — organismos simbióticos que nos convidam a repensar o futuro da humanidade.
O cinema português está representado com diversidade de vozes, estilos e preocupações. Destacam-se When We Were Free, de Stella Mosso Corrá e Madalena Costa, onde cinco reclusos recitam poesia enquanto o tempo passa; Another Island, de Eduardo Saraiva Pereira, que documenta a comunidade cabo-verdiana do bairro Amílcar Cabral, em Sines; e A Waltz on the Moon, de Francisco de Assis Parcerias, um retrato íntimo do luto e da saudade. O festival inclui ainda a estreia mundial de Sensible Soccers: Manoel, um tributo visual e musical ao cinema de Manoel de Oliveira pela banda portuguesa e uma projeção informal de Trip to the Moon, de George Meliés, uma viagem à lua acompanhada, em formato cineconcerto, pela guitarra clássica de Sandor Mester – um regresso à sessão inaugural do Cinalfama, em 2009.
Na sua 4.ª edição, o Cinalfama Lisbon Film Festival mantém-se como um festival com vocação comunitária, internacional e experimental, promovendo um espaço de encontro entre cinema, território e memória. A sua missão é valorizar formas não convencionais de criação cinematográfica, dar voz a histórias locais e fomentar o olhar crítico, a educação visual e a participação ativa de diferentes gerações.
João Gomes, diretor do festival, destaca: “O Cinalfama nasceu da vontade de celebrar Alfama não só como bairro, mas como um espaço vivo de cultura e memória. O cinema independente é a nossa forma de dar voz a histórias que muitas vezes ficam fora do circuito comercial. Este festival é um encontro entre artistas, moradores e público, onde o cinema se torna uma ponte para refletirmos sobre a identidade, o território e as transformações sociais que nos rodeiam.”
Este ano, o festival acolhe também uma amostra do projeto Minuto Lumière, um dispositivo pedagógico que propõe o cinema como gesto de atenção, escuta e descoberta. Inspirado nas primeiras experiências dos irmãos Lumière, o exercício — filmar um plano fixo de um minuto com início e fim definidos — tem sido desenvolvido em escolas públicas da Grande Lisboa, com coordenação no âmbito do Plano Nacional de Cinema. Usando apenas um telemóvel, alunos de contextos multiculturais e socialmente diversos são desafiados a observar, enquadrar e contar o mundo à sua volta.
“O Minuto Lumière é um dos exemplos mais belos de como o cinema pode transformar a maneira como olhamos o mundo. Num tempo saturado de imagens rápidas, propõe-se aqui um gesto radical de atenção e relembra-nos que ver é um ato de presença. Este projeto devolve ao cinema a sua função mais simples e mais bela — a de reparar naquilo que nos rodeia.”, acrescenta João Gomes.