Já andamos aqui a javardar, em nome do bom chifrudo, há tanto tempo, há vinte-e-cinco anos e só agora é que temos o primeiro álbum “a sério” dessa entidade do nosso underground mais badalhoco que são os Vizir. Por entre faixas já conhecidas e alguns poemas novos, “Caralhograma” é o título com a devida classe que arranjaram para este tal álbum a sério. E um álbum sério, diga-se já.
Tudo bem, partimos para aqui com um sentido de humor bastante apurado, um imenso apetite para o cagaçal sonoro, para músicas com a complexidade no mínimo, com crucifixos à volta para virar ao contrário, com outras profanações à mistura. Ou então este “Caralhograma” é uma ode, uma epopeia, uma auto-ajuda quiçá. Pode ser instrutivo e, muito seriamente, apresentar-nos sugestões. Se calhar os Vizir só nos querem dar ideias de como passar o tempo na catequese, formas criativas de dar uso à pia baptismal ou de ir à missa com maior conforto. Talvez nos queiram instruir sobre o uso de água benta para a higiene pessoal e até uma forma diferente de honrar a Nossa Senhora. Talvez nos queiram contar peripécias com peculiares bombardeamentos, como desenrascar hábitos com um braço partido, e incidentais auto-agressões. E um “Hino ao Cu” aqui e ali, de vez em quando, também.
Vizir a ser o que são há mais de duas décadas, tão politicamente correctos como se espera, agora num formato longo que nunca estica a piada até se perder. Mais do que uns Anal Cunt, de quem pegamos num disco, olhamos para os escandalosos títulos, rimo-nos como se estivéssemos ainda no liceu, e acaba por ficar aí toda a gimmick, os Vizir até musicam este avacalho todo com uma amálgama ruidosa que até nem é assim tão fácil de descrever. Tem a estética e perfil de black metal, chavascal de grindcore, atitude e pujança de punk, e outra coisa qualquer que também caiba, que isto é mais heterogéneo que o que parece (“Rambo Fodas” soa a Misfits!). Mas claro que a musicalidade não é uma preocupação tão vital, é um tal de letras a repetir os títulos das canções, com algum outro verso igualmente amoroso a complementar de vez em quando. Qualquer cara séria que tentemos dissipa-se em algum momento, nem que seja na introdução de “Tufão de Peidos” porque somos apenas humanos. Trauteamos riffs, (em “Fui Eu que Inventei Jesus Cristo” e “Sentado num Trono de Merda” são eles que nos ensinam), cantamos alguma coisa ou outra quando os pais não estão a ouvir e até questionamos se, por acaso, a “Filho da Puta” não é mais curta que a “You Suffer”. Ergamos uns chifres em honra deste “Caralhograma” (em nome de Satanás, estes até querem erguer outra coisa), desfrute-se se não forem peregrinos e, já sabem… Quem não ouve Vizir…

