Pois é, Steve Austin já não é um miúdo cheio de raiva. É um homem de meia-idade, pai de família, que até se encontra bem na vida. Parece mal, mas há muitos dedos em riste apontados para ele por causa disso, como quem o acusa de alguma coisa. Ao que parece, isso anda a interferir com a intensidade dos Today Is the Day. Continua a parecer muito mal, quase como uma ordem de “sê miserável outra vez ou acaba com a banda” mas “Never Give In” sugere que realmente uma coisa influencia a outra.

Claro que Today Is the Day já é uma instituição do rock mais ruidoso, experimental e desafiante. Já têm a sua própria comunidade, sem precisar daquela nota de recomendação “para fãs de Melvins e Big Black” e essas cenas aparentemente obrigatórias. Já andam a fazer chãos tremer há mais de trinta anos. Considera-se que há um certo parâmetro do quão caótico esperamos que soem e falta dessa intensidade em “Never Give In” que, apesar de tudo, não é um álbum simples, acessível ou convencional. Se até existiam planos para um disco a solo de country para o velhote do Austin, que ainda não se materializaram, – até os gostos musicais do homem tiveram as suas mutações – não é caso para pensar que esse disco-fantasma esteja aqui. Talvez alguma passagem ou outra venha de lá. Ainda é cheio de esquisitice e até nos levanta o ouvido logo com um riffaço bem espesso em “Divide and Conquer”. Infelizmente, não volta a aparecer mais disso.

Não significa que “Never Give In” não tenha mais pontos de interesse. Continua a ter experimentalismos, sons estranhos que façam parar até mesmo algum fã de Godflesh para ver de onde vem o ruído, e aquela repetição entre o pegajosa e o maçadora que deixaria o Steve Albini orgulhoso. O disco até pode crescer com mais audições e ficar mesmo catalogado como o tal “álbum do Austin maduro”. Mas falta-lhe muita intensidade e sofre com um excesso de canções arrastadas, esquecíveis e de pouco efeito. Não queremos mesmo fazer tão maldosa acusação. Mas se calhar o cavalheiro está mesmo demasiado feliz para ainda andar a fazer disto. É que se é por obrigação…


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