Não sabemos se dá para chamar aos Spectral Wound um fenómeno mas, o que seja, foi surpreendente. Conquistaram todo o panorama do black metal e até foram pescar alguma malta fora, e o que surpreende é que… Até fazem as coisas de forma relativamente simples. Não é o black metal mais inventivo, tudo o que está apresentado em “Songs of Blood and Mire,” assim como nos antecessores, que conseguiu reunir tanta atenção e aclamação, é de raiz.

Há maturidade e consciência neste novo disco. Se também os próprios Spectral Wound foram apanhados de surpresa com o sucesso e aclamação de “Infernal Decadence” e “A Diabolic Thirst,” agora já sabem o que fez isso resultar. E repetem-no. Mas sem se repetirem. São inteligentes na produção da coisa, que é sempre um território perigoso de se andar no black metal: não têm aqui um disco polidinho, mas também não têm uma imperceptível crueza só porque sim. Tão bem balançado como o groove que faz todos estes riffs gingar. É o principal foco, está ainda mais vincado aqui que nos antecessores, e no entanto ainda está longe de perder a essência. Brincam ao tal black ‘n’ roll, sim. Não soa a Satyricon, mas até é uma referência que se justifica.

Mal entra o riffalhão de “Fevers and Suffering,” perde-se o controlo do corpo e desata-se a saltar. Como terá acontecido a primeira vez que ouvimos, por aí, a “Woman of Dark Desires” dos Bathory. Que se mantém como inevitável referência. E “Aristocratic Suicidal Black Metal” – é esse o rótulo que querem que lhes atribuamos? – e “Twelve Moons in Hell” estará entre o mais Bathory que tenham feito. A referência Sueca melódica também se encontra – é sempre Dissection, não é? – e afinal também há uma ferocidade e violência que agradará a fãs mais exigentes de outros actos Norte-Americanos como Leviathan. A atmosfera e os tiques obrigatórios ficam para trás. Os riffs, a honestidade, o peso orgânico e agora também a sabedoria e conhecimento da sua própria fórmula chegam-se à frente. E é mais um tiro certeiro destes Canadianos. Um disco de black metal simples e genérico? Também chegámos a pensar isso mas, entretanto, estas malhas todas ficaram presas no ouvido!