Estão numa daquelas disposições descontraídas, de relaxar, tomar as coisas devagarinho e simplesmente não apressar nada? Pronto, então o novo disco dos Simbiose, tal como os anteriores, não é indicado para vocês neste momento. Os anos passam, a banda fica cada vez mais experiente e mítica, mas não envelhece. Não sabemos se eles quererão revelar onde vão buscar tanta pica para este “Hope.”
E haja esperança, realmente. Na música deste calibre e peso, até nem há razões para isso. Está muito bem entregue. É mesmo em relação ao mundo que nos rodeia. Que, como sempre, volta a servir de inspiração para os Lisboetas raivosos. Que sirva para alguma coisa. E apesar da procura pela esperança de um título como “Hope,” a cólera escarrada por entre riffs violentos e rápidos sugere que não deve haver muita. “Estamos perdidos” é mesmo exclamado em “Tudo Tem o Seu Preço” e o pobre desgraçado do ouvinte até desmoraliza. Mas enquanto o “Hope” toca, dá para debitar essa raiva. A língua está afiada, os riffs estão pesadões, o crust está raivoso e sem travões. Podemos só descarregar em vez de preocupar enquanto ouvimos estes temas.
Do tipo de coisa que quase nos faz desejar que o clima político nunca deixe de estar em alvoroço, com o medo de que, sem isso, lá se vai esta música nervosa por não ser necessária. Mas, para já, podemos atender à sua necessidade. O punk crust/hardcore metalizado e muito venenoso que os Simbiose praticam não é inventivo, nem é para ser. É uma descarga de meia hora simples, com temas bastante directos – e directos ao assunto também – que conseguimos distinguir. Tivéssemos nós uma garganta como a do João e até podíamos tentar acompanhá-lo nalguns refrães mais imponentes que chamam por nós. Haja sempre esperança então, que nos Simbiose está bem empregue. São mais de três décadas a virar frangos e ainda têm esta forma e esta violência para nos deixar a pensar, ao mesmo tempo que nos deixam os miolos em papas.