Já faz tempo para que os Rei Bruxo deixem de ser um segredo bem guardado no nosso panorama alternativo. Cada vez mais difíceis de catalogar, não poupam nos experimentalismos e no vasto leque de influências para “O Quarto Fechado”, que leva as novas experiências para além da música: é lançado num formato álbum-livro, com textos e ilustrações a acompanhar a narrativa do disco, que já é uma obra tão impressionante por si só.

É um disco que funciona demasiado bem como uma “experiência”, o quão pretensioso isso soe, e que fala melhor por si, e que dispensaria aquela análise à lupa do “soa a isto” e a falar das referências todas que aqui se encontram. E nem é só por serem praticamente incontáveis, como sempre, porque são. “O Quarto Fechado” e as dúvidas existenciais da sua temática tornam essa análise, por vezes a mais primária que fazemos por aqui por páginas deste tipo, completamente obsoleta. Mas lá vamos nós listar as suas aventuras e ponto de vista único sobre o rock progressivo, talvez aqui mais metalizado ainda que no passado, com a porta escancarada para a electrónica, para o jazz, para foco em piano, trip hop, um impressionante rap ocasional, – a nível vocal, só ficou a faltar mais um scatzinho hipnotizante – e mais qualquer coisa para a qual consigam abrir acesso. Um disco aventureiro, e com tudo a fazer tanto sentido.

Em nenhum momento se sente que haja alguma mixórdia aleatória de coisas, a ver se colam. E, mesmo sem o acompanhamento do livro, já fica uma obra tão completa, a ser recordada no final do ano e por aí além. Desafiante, – têm coragem de admitir que a “Botão de Pânico” pode ser nu metal? Têm? – reconfortante e envolvente antes de nos abanarem bruscamente – do nada, estamos sujeitos a levar com uma estalada de um riff à Deftones. Dizem que pretendem, com este atribulado conto, provar que “seria impossível uma fuga do mundo, uma vez que não há outro mundo.” Por acaso, podíamos jurar que este “Quarto Fechado” é mesmo outro mundo e já andamos a ver como lá voltar.


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