Crise de meia-idade é aquele temeroso termo que começa a vir à baila assim que o tempo passa e muitos dos heróis da juvenilidade de outros tempos começam a envelhecer. Uma das chaves para isso, também, é a falta de noção. A carreira dos Pearl Jam já vai avançada mas se, quer seja por fãs ou imprensa ou o que seja, há exigência de que tenham a pica de quando eram putos de vinte anos ou, mais difícil ainda, que seja 1991 outra vez, então a falta de noção não é da banda. Que parece ter bem noção da sua maturidade em “Dark Matter.”
Havia uma rota fácil a tomar para que realmente se temesse essa “velhice” dos Pearl Jam. Quando prometiam as suas canções mais rápidas e uma vincada influência de punk, é daquelas situações que facilmente vemos uns “dad rockers” a fazer montanhas parir ratos. Mas não é o caso e é mesmo uma veia saliente neste disco – “Running” é a que tem mesmo esse perfil – e até fazem algumas canções mais rápidas e potentes que contornam as comparações que fazemos sempre à “Spin the Black Circle” quando aparece uma nova dessas. Apesar disso, “Dark Matter” não é álbum de uma faceta só e tem outros temas que podem ser do seu mais heartland – “Wreckage,” “Upper Hand,” Something Special” e uma sempre melancólica conclusão que aqui é “Setting Sun” – com as lições de Tom Petty bem estudadas, como já se viam os resultados no anterior disco a solo de Eddie Vedder, e sempre com aquele folk rock, não vá dar alguma coisinha ao Vedder se passar muito tempo sem se lembrarem de que ele é grande fã do Neil Young.
Têm total noção de quem são e de quem foram e de quantos clássicos (não) nos devem. É assente no presente mas ainda consegue um recuo, mas ali até ao auto-intitulado de 2006 – e olhem que até nem é mau porto onde parar – e pronto, aquele solo a culminar “Waiting for Stevie” até é muito “Alive,” portanto peguem lá um biscoito. Já se pode dar ao luxo de ser tão simples quanto é. “Dark Matter” não rocka como quem vos dá como garantidos.