Com o Verão a acabar, dão-se as boas-vindas a uma estação mais fria, que traz uma bela palete de cores mas que também deixa muitas outras coisas mais acinzentadas. Como também dá para tirar proveito disso mesmo, arranjam-se boas bandas-sonoras para uma tarde chuvosa já a pensar se a lareira não dará já para acender em breve. E os Paradise Lost lançaram um disco para isso bem a tempo. Temos é que ir contá-los para ter a certeza que não estamos loucos: com “Ascension” são mesmo dezassete álbuns.

Esta ascensão realmente terá que se ficar pelo espiritual, já que os Paradise Lost estão no topo da sua cena há muito tempo, onde já não dá para subir mais. Também já estão num ponto em que a reinvenção não pode ainda ser um critério – eles já as fizeram e totalmente sem medo – e partimos com curiosidade para saber o que pesca de cada uma das suas fases. Com projectos à parte para poderem abordar os seus devaneios mais excêntricos, – os Host, que tiram o nome do álbum com esse nome – claro que “Ascension” será uma boa e longa – mas muito bem administrada – dose de old school Paradise Lost. A escola do death doom gótico melancólico que sabe ter melodias mas também sabe entrar a rasgar foi fundada por eles, portanto ninguém tem que lhes ensinar alguma coisa.

Essa parte melódica, a voz limpa de Nick Holmes, pode levar este disco para territórios próximos do “In Requiem” ou do “Faith Divides Us – Death Unites Us” de uma forma que já não ouvíamos há muito tempo, alternados com outro tipo mais agressivo de cantar, quase Hetfield-esco, – especialmente numa “Diluvium” e muito especialmente numa “Sirens” – e tudo a adornar umas belas passagens guturais acompanhadas de riff cavernoso. São os gajos que fizeram o “Gothic” e o “Shades of God,” afinal, não há como enganar. Já está tudo mais do que desenvolvido, portanto há o gosto em já existir na voz de Nick Holmes, naquela guitarra tão característica de Gregor Mackintosh e até nos outros truques na atmosfera e nas melodias, aquelas coisas que identificamos logo a quem pertencem. E mesmo assim “Ascension” parece ser dos mais bem conseguidos em muito tempo. Com concorrência forte já que, até mesmo com esforço, não se encontra o raio do disco fraco no vasto repertório destes Ingleses.


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