Tanto parece que foi ontem que nos surpreendemos com o disco de estreia dos Miss Lava e salivámos com o panorama promissor de rockalhada de barba rija mas que não nega umas jornadas psicadélicas, como já os temos como veteranos tão essenciais da cena que nem nos lembrámos muito bem como era a cena antes deles. “Under a Black Sun” já é o quinto álbum. Absolutamente nada a provar. Mas vêm com a garra de quem tem.
“Under a Black Sun” também não vem para deixar dúvidas. É mesmo o sucessor directo de “Doom Machine.” Mesmo que circunstâncias reais tenham acrescentado uma carga emocional nesse disco, “Under a Black Sun” continua-o. Um mundo realmente fica alterado definitivamente e há coisas que ficam sempre, mesmo que nunca se negue a diversão, tão essencial no ADN da música dos Miss Lava. E aqui opta por atmosferas psicadélicas e coloridas ou por riffs matulões bem carregados? Os Miss Lava responderão que sim. Um pouco mais atmosférico na construção progressiva de “Dark Tomb Nebula,” um riff de agarrar de imediato em “Neon Gods” e até algo mais fumarento de um doom clássico mais ocultista em “Evil Eye of the Witch” ou uma “The Bends” a ver se dá para ir ao sludge, mantendo melodia e acessibilidade. São uma banda completa. Se ainda estão dependentes de referências e querem saber se aqui há mais de Elder, de Kyuss, ou até de qualquer coisinha de Electric Wizard, os Miss Lava servem uma pratada de Miss Lava, que tem sabores disso tudo.
Mais do que inovação e surpresas, “Under a Black Sun” é um disco que procura o amadurecimento. Ou a continuação disso, já que também isso começou de imediato. Claro que o “Blues for the Dangerous Miles” é um estupendo disco de rock ‘n’ roll directo e festivo, e bem sabemos o que é aquilo que está ali no centro da capa. Mas, sem alguma vez deixarem isso de lado, os Miss Lava sempre quiseram saber até onde se podiam estender sem perder o mínimo de identidade. Alguma surpresa ou outra, – não se deixem enganar pela curta duração de “Chaos Strain” que não é um interlúdio, mas sim uma rápida descarga do mais punk que já fizeram – muito fuzz, psicadelia, precisão na eficácia do refrão grandioso quando tem que ser, e riffs para toda a família. Não param de crescer nem dão qualquer sinal disso.