Foi curta a espera por “Steel, Rust and Disgust.” Normalmente desconfiamos disso. Hoje em dia é preciso tempo para realmente preparar, aperaltar e polir as coisas. O que vale é que os Midnight estão realmente importadíssimos com isso. Um conjunto de malhas, com a sujidade do costume, que pareciam estar à espera para ser lançadas. E se calhar até estavam. Obscuras que possam ser as canções, por muito Midnight que soem, isto é um disco de covers.

O re-tratamento de bandas mais obscuras ao estilo Midnight até ajuda a que pareça um conjunto de originais – ainda há aqui duas, mesmo assim. Pode servir para mostrar como dá para adaptar tanta coisa ao estilo tão cru e veloz dos Midnight: desde o mais evidente punk de raíz dos Dead Boys ou dos Electric Eels, ao mais improvável de Screamin’ Jay Hawkins e David Allan Coe. Tudo passa a ser este estilo de heavy/black/metal/punk, o que seja, – “Cleveland Metal,” é isso? – que os Midnight andam a cuspir há já uns bons anos. Um disco que não devia acrescentar assim muito a qualquer repertório. Mas afinal até o faz. Expande o leque de canções brutas e directas um pouco mais: a origem old school destes temas traz refrães mais fáceis e pegajosos ainda.

Portanto se ainda não pararam de cantar as canções dos anteriores, – isto é muito bruto para ser tão catchy, mas já sabemos como eles são – juntem-lhes estas. Nem os temas ficam menos brutos, ou horrorizam menos – “Child Eaters,” por exemplo, clássico escondido da banda de culto Rubber City Rebels, não será o mais indicado hino à maternidade. Nem parece assim tanto um álbum de covers, e ainda por cima as duas originais disfarçam-se bem no meio das restantes. É fácil adorar Venom, Bathory, ou Motörhead. Todos o fazemos, com certeza. Mas há mais mérito em pegar numa guitarra, fazer barulho em tributo a esses e torná-lo seu, e ainda ser capaz de ir além do óbvio e procurar outras referências. “Steel, Rust and Disgust” acaba por soar igual aos outros todos. Mau era se assim não fosse.


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