Há dois anos tivemos uma estreia auto-intitulada que reconfortou aqueles que deram pela falta de uma grande banda do nosso cenário gótico, trazendo-a de volta com nova roupagem e com uma proximidade ainda maior ao nosso folclore. E cá estão os Malignea de volta, agora levando-nos para “A Aldeia” e a fortalecer ainda mais toda a “portugalidade” e folclore que já os definia.

Continua próximo do que já se ouvia com os Dogma ou os Insaniae, agora puxando mais para o folclore – sem uma submissão à folk no sentido mais musical mas com canções cuja temática acaba por influenciar a estrutura e abrir caminho para que realmente entre – do que para um esoterismo gótico e melancólico. Até há uma certa alegria nesta “Aldeia”, por muito amaldiçoada que por vezes pareça estar. Se calhar o encanto dela é mesmo esse. E, por muito fictícia que seja a dita aldeia, temos a sensação de já lá ter estado, de conhecer algo dela, de já nos terem contado algo sobre ela. Quer quando aborda realmente lendas, – “A Dança” – ou quando recorre às figuras mais típicas – “A Bruxa”. Não perde o tom celebratório, mesmo quando o tema se torna mais tenebroso e tem tudo a ver com a atmosfera que são capazes de criar e com a fantástica voz de Isabel Cristina.

Até se torna acolhedor um álbum destes, ao preservar algo que queiramos resgatar. Estamos melhor nesta aldeia fantasiosa – e ao mesmo tempo realista – do que naquele urbano rotineiro em que nos encontramos presos. Vale um metal gótico, tão melódico, que se deixa ficar mais folk na faixa-título. No geral, até tem mais cor que o seu antecessor, com a melancolia baladeira de “O Poço” e a lentidão mais progressiva de “O Moinho” a ser do que realmente pudesse estar no “Malignea”. Fica uma rica obra, uma aldeia por descobrir, uma banda que comprovou que não é apenas uma nova encarnação de outras duas semelhantes, ao ser a que mais portas abriu para diferentes futuros. Mas já soa inconfundível e queremos mais contos narrados por eles. Só não há aqui algum sobre o Tardo. Mas ele deve andar aí.


Partilha com os teus amigos