Uma personagem peculiar, esta Lana. Polarizadora desde o início – especialmente aquando da sua chegada – e já alimentou a ideia da filhinha rica do papá, já a contradisse, já seguiu o seu percurso de costas voltadas para o interesse comercial e já conquistou uma boa legião de fãs e até o respeito de alguns que duvidaram dela inicialmente.

“Norman Fucking Rockwell” traz ares de que possa ser o disco mais descontraído de Lana Del Rey, ao mesmo tempo que é o seu mais cuidado e complexo. Mais uniforme, algo em que ela se tem vindo a focar ao invés do colorido manto de géneros musicais que foi “Born to Die” e com a melancolia, que nunca se perde na sua música, mais patente no tom baladeiro e orientado por piano que se encontra neste novo disco de tão curioso título. Aparentemente simplista à primeira audição desatenta mas com imensa substância na abordagem minimalista de um sophistipop que tanto deve à música alternativa moderna como a algo mais vintage, inclusive um soft rock mais setentista.

Não deixa de impressionar que anos de “brincadeira” com pop, rock e pontes entre trip hop, um sentido slowcore e até a cada vez mais notável psicadelia – aqui vai além dos meros sons de background de “Venice Bitch,” que realmente se passa muita coisa nos surpreendentes dez minutos dessa grande canção – resultem neste “Norman Fucking Rockwell” tão coeso e sentimentalista. As melodias e a voz inconfundível de Lana são doces, sim, mas ela não quer que pensem que ela é. Tudo continua cru, in-your-face com alguma subtil rudeza de esgar provocador e altamente emocional. Mais do que o conjunto de baladas ao piano que possa parecer ao início. “NFR!” surpreende e é inegável que tenha vindo para ser o disco mais interessante desta “american girl” desde a sua intocável estreia.