Depois de um abrandamento na actividade discográfica, os Kadavar surpreendem com dois discos num ano. Se “I Just Want to Be a Sound” surpreendeu pela sua palete bem mais colorida e alegre, com uma pop psicadélica que, mesmo continuando a soar a outros tempos, diferia do rock de barbas do costume, este “Kids Abandoning Destiny Among Vanity and Ruin”, título a atribuir uma sigla ao nome da banda, será o seu complemento, no sentido é que volta muito peso, sujidade e bordas mais afiadas e ásperas.
Na frente daquele movimento revivalista que, como tantos outros, acabou por encher e deixar joio amontoar-se, o passar do tempo provou algo muito importante em relação a esta banda Alemã: até pode nem se falar assim tanto deles como nos seus inícios, podem já não estar tanto na berra, mas conseguiram o mais importante, que foi mostrar que não tinham amarras estilísticas, que não eram meros saudosistas caprichosos, que não eram mais uns putos “nascidos na geração errada”, que até podem ir à raiz e origem das coisas, mas que sabem como ser criativos, expandir a sua sonoridade na mesma, e evoluir como uma banda a sério e que não anda aqui a fazer de conta que caiu dos anos 70, a partir de uma máquina do tempo manhosa. “I Just Want to Be a Sound” foi uma corajosa prova disso, mesmo alienando alguns fãs mais puristas. Agora este novo “K.A.D.A.V.A.R.”, além de ser novamente mais pesado, tendo talvez essa relação yin-yang com o seu antecessor, também ele dispara em várias direcções.
O fuzz e a psicadelia continuam, evidentemente, por cima, como se percebe logo nas catchy “Lies” e “Heartache”. O que se segue, tanto pode realmente ser hard rock no estado mais puro, como parece buscar coisas que lembrem o revivalismo de um garage rock que encantasse a imprensa e público britânicos no virar do século, é capaz de manter melodias mais alegres e gingonas, como na tongue-in-cheek “Stick It”, escurece com brusquidão em “You My Apocalypse”, carrega ainda mais numa tão distorcida e ruidosa “The Children” e fecha com uma surpreendente chave metálica na bem thrasheira “Total Annihilation”. Se achavam que já conheciam os truques todos desta malta, os dois últimos discos serviram mesmo para trocar as voltas e lembrar que antigamente também se era criativo, fazia-se muita coisa diferente e reinventava-se bastante. Ou se calhar os Kadavar não pretendem assim tanto soar antigos como pensávamos. Ou até pretendem mas a sua linha temporal é que não é assim tão linear.

