Vamos fazer de conta que vamos recomendar este “Angels Hung from the Arches of Heaven” a alguém que ande suficientemente desligado do panorama da música extrema para não conhecer os Goatwhore. Para evitar o argumento fácil de que estes Americanos são das propostas mais excitantes e brutas do metal de prefixo extremo que seja, porque realmente ainda não o sabe. Oferecemos-lhe metal extremo e esse inocente pedirá para especificarmos se é black, se é death, se é thrash, se é outra coisa qualquer. Simplesmente lhe respondemos que sim.

A recomendação estende-se à expectativa que a fusão entre black e death tende a sugerir. Deixa-se envolver pela própria catarse e atmosfera e torna-se muito épico. Se por acaso estiverem fartos desse apocalipse cinemático todo, então existem os Goatwhore para fundir isso tudo e mais qualquer coisa com a mesma atitude e intensidade com que os Venom e outros compinchas já alinhavam com o chifrudo. Como se olhassem à raíz de todo esse metal extremo, antes de se dividir nas suas várias vertentes e partisse daí mesmo, à biqueirada nos dentes, que é o que se sente nesta explosão.

Pronto, já lemos o rótulo das instruções de como desfrutar dos Goatwhore, com os efeitos no pescoço totalmente da nossa responsabilidade. Mas isso já vem de há muito tempo. Na celebração dos 25 anos de carreira e ao oitavo álbum, já vai tarde. A lição está mais do que estudada, discos como “Carving Out the Eyes of God” ou “Blood for the Master” já têm que ser clássicos deste século e permitem que, a esta altura do campeonato, já tenham conquistado algo tão contraditório do caos da sua música: o conforto. A mesma segurança com que “Vengeful Ascension” se apresentou há cinco anos, é a que existe nesta novidade. A cólera está toda lá. Os riffs… Se estão! A malvadez chega logo em “Born in Satan’s Flesh,” “Ruinous Liturgy” é daquelas que nos lembra porque é que os Goatwhore são mais thrash que muito thrasheiro puro a produzir e editar em piloto automático, e se há algo medonho é quando mudam de velocidade e trazem-nos o arrasto de “And I Was Delivered from the Wound of Perdition,” a fechar com chave de ouro. Os Goatwhore de sempre ainda são os Goatwhore que queremos.