Pela altura em que se escrevem estas linhas, já dá a impressão de que a chuva e aquele tempinho fosco tenham realmente chegado para ficar. Os festivais de Verão já lá vão, temos as boas memórias deles, mas a acompanhar a fraca luz natural que entra pela janela ou uma noitinha de aconchego, fica melhor um disco a condizer. Curiosa introdução para um novo dos Evoken. Porque esse até é capaz de ser demasiado para isso. Ainda para mais quando nada neste “Mendacium” sugere algo mais acessível.

Estão entre os pioneiros do doom metal na sua forma mais funerária, logo entre os que encontraram a fórmula para tornar a coisa mais lenta, mais densa, mais arrastada, mais deprimente ainda. Isso logo ao início, porque ainda conseguiram evoluir esse som – que devia ser tão limitado e, se não estiver nas mãos certas, realmente é – para chegar a “Mendacium” como quem ainda procura aperfeiçoar essa sonoridade. Que nos iam atirar para dentro de um túmulo e deixar-nos lá na companhia dos nossos fantasmas e mais alguns, já sabíamos. Mas já muitos fazem isso. Os Evoken têm que fazê-lo mais à Evoken, para justificar porque é que constam sempre entre os primeiros enumerados nos pesos pesados do tal “funeral doom”. E que pesos pesados são eles.

Este talvez não seja para os bem-dispostos. Mas também é para aqueles que procuram o riff. Por vezes uma guitarrada cheia de lodo, a um ritmo muito lento, é o suficiente para marcar a passada e orientar-nos para o que estamos a ouvir. Mas para os Evoken não chega, também querem que memorizemos uns riffs. Na voz, misturam-se estilos. Que lá porque gostam de estar fechados numa masmorra, não parece que queiram estar amarrados. O habitual gutural, regulares lamentos com voz limpa – por vezes a lembrar uns monstros mais subvalorizados do death doom, os Mourning Beloveth – e uma berraria que sugira um pouco de black metal, ou só muito desespero. Tudo auxiliado por uns sintetizadores quase sinfónicos, indubitavelmente fúnebres. Totaliza um trabalho tão atmosférico que até justifica os interlúdios mais curtos. Escusam de procurar aqui “aquela” música ou algo de fácil digestão. Se vierem à procura de um dos melhores discos dos Evoken, são capazes de ter mais sorte.


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