Se não se retira muito gosto ou prazer em acompanhar a rotatividade das Nervosa e queremos é a música que sai de lá, uma das “crias” que de lá se emancipou, esta Crypta, tem o seu foco no sítio certo. “Shades of Sorrow” é já o segundo álbum e podia ser um álbum muito difícil.

Como quem já tivesse passado o primeiro teste de se comprovar como uma banda nova, livre de associações constantes, e agora tem que mostrar que está cá para ficar. Souberam como tirar partido da pressão que tivessem: aprimoraram pormenores, mantendo a fórmula praticamente intacta. Há uma aposta um pouco maior na parte atmosférica e progressiva e até em elementos melódicos, especialmente nas guitarras, e tomam-se como exemplos a multifacetada “Stronghold” e uma “Trail of Traitors” que poderá beber à melhor das fontes do death melódico que não seja Sueco: Carcass do “Heartwork.” Fernanda Lira assume a sua posição de líder – e não de chefe ou figura principal, há toda uma banda a brilhar, em conjunto e individualmente – e realça o seu trabalho de baixo, enquanto intimida ainda mais com os seus desenfreados rugidos.

O death metal embelezado de melodia mas também banhado a thrash que terá impressionado em “Echoes of the Soul” mantém-se aqui, mas as brasileiras souberam como olhar para ele, tomar notas e manter a linha sem copiar ou reproduzir. Mesmo com elementos mais cuidados, uma atenção maior à técnica, à produção e à melodia, é possível que tenham conseguido, com isso tudo, um disco mais pesado em “Shades of Sorrow.” Que acene a este acto ou aquele – não vá a “Lullaby for the Forsaken” ser a música que os Arch Enemy andem a tentar fazer desde que a Alissa lhes tomou as rédeas – e penda umas vezes mais para o lado do melodeath e outras para o death mais sujo da velhaguartda, “Shades of Sorrow” é álbum de uma banda já confiante e que nos consegue assegurar que ainda dará para melhorar.