Longe vão os tempos daquela “edge” dos Crematory mais pesados e extremos da década de 90, mas já há muito que estabeleceram a sua sonoridade, muito distinta, ao ponto de já não lhe mexerem, faz bastante tempo. Com a difícil obra que é ter trinta-e-pico anos disto e já dezassete álbuns, podemos assumir acertadamente que já ouvimos este “Destination” antes, mesmo antes de o colocarmos a tocar. Já atingiram aquele conforto que pode torná-los cansativos e, tendo em conta que ultimamente todos os seus lançamentos têm o hype a meio-termo e passarão ao lado de alguns, é porque estes góticos Alemães já foram bem mais relevantes.
Tomemos um grande disco do seu percurso. O “Revolution,” de 2004, aquele que pode ser o seu recomeço após um muito breve hiato, – mais breve que muitas fendas discográficas normais de muitas bandas – e que definiu esta fusão sonora de metal gótico, industrial, e uns toques agressivos de death metal melódico com toda a melancolia e um refrão bem chorudo. A partir daí está feito, não se mexeram muito mais para além disso, sem sacar de outra “Greed,” “Angel of Fate,” “Reign of Fear,” “Red Sky,” “Tick Tack” e mais uma data delas. E com muito bom disco, na mesma. “Destination” é mais um e, enquanto a faixa-título até se entranha bastante e sentimos que podia fazer parte de algum registo desses tempos, também sentimos como se eles próprios estivessem a seguir a referência.
O que vale é que ainda conseguem umas malhas jeitosas à custa disso, mesmo que o que mais agarre em “Destination” seja o quanto faça lembrar os discos antigos. Com escolhas mais questionáveis como a cover de uma “My Girlfriend’s Girlfriend” que obriga à proximidade vocal a Peter Steele, tanto dos guturais de Felix Stass, como da voz limpa do convidado Michelle Darkness dos End of Green, para algo tão intocável e com uma letra de um campo muito fora do espectro dos Crematory. E com escolhas mais acertadas como quando recorrem àquele industrial verdadeiramente Alemão em “Welt Aus Glas” ou “Days Without Sun,” a um gótico mais Paradise Lost em “After Isolation,” ou a um peso mais directo como em “Banished Forever.” É acolhedor o quanto se sente dos Crematory da década de 00s, apesar de se sentir ainda muita falta de Matthias Hechler na voz limpa, mesmo tendo já passado dez anos desde a sua saída. “Destination,” com tudo no sítio, é um álbum a padecer do mesmo mal que os seus antecessores: é bom mas, quando ainda questionamos a falta dos álbuns antigos nas malditas plataformas de streaming a cada vez que cai lá um novo, é porque não são uma banda muito do presente.