Christian Death

Evil Becomes Rule
2022 | Season of Mist | Rock gótico, Deathrock

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Décadas de depravação, morte e muita aversão à igreja e qualquer religião – numa batalha em que os disparos vinham dos dois lados. Uma história tão conturbada, que não é qualquer banda que chega lá perto, e uma certa dispersão da atenção por parte de alguns fãs mais acérrimos da fase inicial e que tenham a estreia “Only Theatre of Pain” como bíblia. É a desconfiança e cautela que orienta muitos para o novo “Evil Becomes Rule.

Com a formação focada em Valor Kand e Maitri, entre as centenas de formações que esta caótica entidade já teve, a fazer valer o legado do ícone gótico Rozz Williams, “Evil Becomes Rule” é um autêntico reconhecer do seu passado, uma viagem às trevas de outros tempos. Aqueles a quem se atribui a invenção do género “deathrock” olham à raíz desse termo e ao que criou a necessidade de os distinguir de outros actos góticos da sua altura. Com décadas de desinteresse por parte de alguns fãs, menos impressionados com os seus discos e talvez também enfadados com as confusões entre membros e mudanças de alinhamento, olham para esta versão dos Christian Death como uma recriação, algo que corre atrás do próprio legado para o tentar reproduzir, quase a roçar o acto de tributo. Mas isso vem de apegos e torna-se injusto para muito bom álbum que eles tenham editado nas últimas quatro décadas. E isso inclui “Evil Becomes Rule,” perfeito apanhado das suas características para apresentá-los a uma potencial nova geração – a aproveitar a boleia da estreia pela Season of Mist.

Independentemente de “quais” Christian Death sejam estes, já fazem parte do legado e sabem exactamente o que fez da banda tão única quando quase abriu as portas da subcultura gótica, com o seu negro pós-punk de uns “evil Joy Division” que se mantém até hoje, especialmente nos throwbacks de canções incrivelmente orelhudas como “Blood Moon” ou “Beautiful.” O tom misterioso da abertura “The Alpha and the Omega” é a tal bizarria de assinatura que sempre tiveram presente, os riff pesadões de “New Messiah” ou da Sabbath-escaElegant Sleeping” lembram que por vezes até são mais pesados que muito acto metaleiro influenciado por eles e agora colega de editora, a faixa-título lembra a sua aptidão para os ambientes soturnos que contraste com as canções mais cantaroláveis e a ruideira industrial de “The Warning” reforça a sua heterogeneidade e capacidade múltipla de serem perturbadores. É álbum para se destacar e trazer aquela conversa do “melhor desde aquele” tal é a forma coesa como soam a debitar todas as suas diferentes características. Que já não seduza como aqueles antigos, é mesmo uma pena para quem não conseguir desapegar daqueles primordiais clássicos, mas isso será apenas por já não estarmos em 1982. Mas depois de ouvir este, bem submersos nele, até somos tentados a olhar à volta, à procura de um calendário e das nossas ferramentas electrónicas para termos mesmo a certeza que não estamos.

Músicas em destaque:

The Alpha and the Omega, Beautiful, Who Am I Pt. 1

És capaz de gostar também de:

Mephisto Walz, Shadow Project, Alien Sex Fiend


sobre o autor

Christopher Monteiro

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