Não pode cá falhar um espaço que nos faça ver em que ano é que estamos. Não, não estamos nos 90s mas dá para falar dos Bush, que nunca chegaram a ir para lado nenhum. “I Beat Loneliness” é o décimo álbum, não é um regresso isolado, até nos faz falar dos antecessores. Continua uma sequência que começou com “The Kingdom” na qual quiseram ficar mais pesados. Talvez como reacção a eles próprios e ao seu mais suave – e insosso – “Black and White Rainbows.”
Pronto, mas voltemos então ao inevitável. Que é falar dos 90s. Porque os Bush sofrem mesmo do “síndrome da década,” se fizermos mesmo de conta que isso é uma coisa. Nunca chegaram a igualar aquele trio de primeiros discos importantíssimos no rock alternativo da década e do grunge que já tinha que vir com o prefixo “post” às costas. Os seus exercícios nostálgicos não eram os mais eficazes, então o conjunto de Gavin Rossdale dá um twist à coisa e faz algo perigosíssimo quando se mete uma crise de meia-idade pelo meio e decide então dar-lhes uma raiva renovada, com alguns dos seus riffs mais pesados e levam os Bush para os lados do nu metal. Podia ser aqui a parte em que apelaríamos à cautela mas podemos dizer, com alívio, que nem resultou assim tão mal. Estes Bush downtuned são bem mais interessantes que os melosos a chorar porque a Gwen Stefani não deve voltar.
Não deixa de ser um disco muito pessoal. Mas dos que dá para partilhar, já que são os temas de saúde mental e depressão que dominam. É o que favorece também ao tal peso – aquela “I Am Here to Save Your Life” é dos Chevelle ou alguma coisa assim? – e a manter o negrume sobre a parte não-pesada. O disco, na verdade, divide-se. A segunda metade é mais melancólica, experimental e recorre mais à electrónica do que aos riffs, por vezes com um certo ambiente mais introspectivo, intimista e soturno. Peguem lá um termo como “post-grungegaze” só para terem pesadelos. Podia haver uma maior coesão entre as duas metades. E podiam todas as canções ser tão pegajosas como outras que passam mais ao lado. E aquela tentativa de um trap beat em “Love Me Till the Pain Fades” podia não estar ali. Mas também podia ser 1996 e então aí é que seria tudo muito mais fácil, e até souberam contornar isso para que “I Beat Loneliness” não venha a ser um álbum de Bush assim tão recordado, mas que consiga justificar-se.