Bon Jovi

2020
2020 | Island Records | Rock

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É 2020 e ainda temos novos trabalhos dos Bon Jovi para ouvir, com esse mesmo título, algo que por si só já constitui uma proeza, mesmo que a expectativa para o disco em si não se eleve por aí além. A magia está na longevidade, mesmo com a dificuldade em destacarmos uma obra recente que valha realmente a pena. Possivelmente os únicos glammers a adaptar-se à década de 90 com um surpreendente “Keep the Faith” e até ao novo milénio com um rejuvenescido “Crush,” quiçá o último álbum da banda de New Jersey verdadeiramente sólido e completo.

Para a banda com mais fãs com vergonha de admitir que são fãs, até é uma pena. Começa a tornar-se cada vez mais difícil justificar um novo trabalho dos Bon Jovi. Era o único louvor que se podia dar a um paupérrimo “What About Now” de 2013. Perante a pergunta “porque é que os Bon Jovi continuam a lançar música?” respondiam com o single principal: “Because We Can.” E não nos podemos opor a isso. Após experiências pouco conseguidas com country – “Lost Highway” – e uma discreta compilação de diferentes formas de mandar Richie Sambora à fava – “Burning Bridges” – chega “2020” a ameaçar passar tão despercebido como todos os seus recentes antecessores e ficar igualmente gravado na memória. Paira ainda o fantasma da auto-reciclagem, muito presente nos últimos anos. Lembram-se quando saiu “We Weren’t Born to Follow,” até nem soava mal, era divertida mas lá nos apercebemos que era a “Born to Be My Baby” com um casaco novo? Pronto, já todo o mundo notou que “Blood in the Water” do “2020,” potencial canção mais poderosa de todo o trabalho é uma “Dry County” em versão dieta. E são mais dez canções, de pouco gás, incapazes de agarrar o ouvinte, quer ele queira ou não, – ponto forte no seu passado – num rock heartland e “adulto contemporâneo” com uma linha muito ténue entre o maduro e o envelhecido.

O que também é uma pena aqui. Porque se as músicas em si não colam tão bem, em termos de letras, “2020” terá o sempre política e socialmente consciente Jon Bon Jovi no seu estado mais inspirado. Aproveitou o adiamento da data de lançamento do disco para acrescentar uma canção sobre esta estimadíssima crise pandémica – “Do What You Can” – e outra sobre o assassínio de George Floyd e as suas consequências – “American Reckoning.” Mas já tudo era referente ao ano que intitula o disco. Os demasiado frequentes tiroteios em escolas Americanas, – “Lower the Flag” – crise de migração, – “Blood in the Water” – ou trauma pós-guerra – “Unbroken.” Temas que possam de facto tocar o ouvinte e injectar alguma alma nas mais insípidas canções. Agradará fãs acérrimos e quem defenda a simplicidade inofensiva do grupo e até estará uns furinhos acima do ainda mais esquecível “This House Is Not for Sale.” Mas nós cá vamos querendo saber como estão o Tommy e a Gina e até como estão a lidar com o confinamento. Pronto, lá teremos os clássicos para revisitar. Nem que seja em segredo!

Músicas em destaque:

Do What You Can, Lower the Flag, Blood in the Water

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Isto até se assemelha mais a umas antigas propostas de Jon Bon Jovi a solo…


sobre o autor

Christopher Monteiro

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