Pode parecer muito presunçoso um ataque a muita da crítica musical, por parte de um órgão dessa mesma crítica musical, mas há razões para apontar alguns dedos a uma mídia, muitas vezes mais alternativa e que se deixa ficar mais pretensiosa, quando cria as suas coqueluches. Quanto mais alto elevam um acto e mais adoração lhe prestam, maior será a queda. Até já dá para fazer o exercício e ver quais são os actos mais bajulados actualmente para ter uma ideia de quem serão os mais ridicularizados no futuro.
Toda esta introdução para afirmar que os Arcade Fire foram vítimas disso. Claro que recriar o “Funeral” não é uma coisa que esteja propriamente à mão para se fazer, e o Win Butler ainda está enterrado até ao pescoço em problemas, mas já antes disso não eram tratados como a mesma banda. Aquela viragem para uns lados mais ABBA já foi a morte do artista. Qualquer novo disco corre o risco de ser recebido com uma cara de enjoo de quem tem que comer por obrigação. Mas agora sejamos honestos, também, já chega de pancada em hipsters, ou lá quem sejam. Lá teremos que ser a milionésima publicação a fazer referência a ter que “mencionar o elefante na sala.” É que, para provar esses críticos todos errados, para tentar separar a arte do problemático artista, este “Pink Elephant” dos Arcade Fire realmente não é lá grande coisa. Totalmente mau? Não. Meio desconchavado, com demasiadas ideias soltas à procura de lugar, poucas canções memoráveis, múltiplas sonoridades que revelam mais indecisão do que uma panóplia criativa e letras de alguém possivelmente desesperado. No final, o que se calhar nos ficou mais preso na cabeça, foi a ironicamente intitulada “Stuck in My Head,” e mais pela força da repetição do que por bons ganchos.
Lá está, temos que dar o braço a torcer, há alguma gravidade nisso. Porque, afinal de contas, é a mesma malta que fez o “Funeral.” Não é um total desastre, claro que não, há algo dos velhos Arcade Fire na faixa-título e em “Stuck in My Head;” “Circle of Trust” e “I Love Her Shadow” são canções de synthpop que até têm a sua graça, e lá se conseguiu uma canção dos Gorillaz mais barata em “Alien Nation.” Mas é muito pouco para quem escreveu a “Rebellion (Lies),” a “Ready to Start,” a “Power Out,” a “Wake Up,” a “No Cars Go” e sim, a “Mountains Beyond Mountains,” porque não é a mudança de estilo para o synthpop que é o pecado. Até a sacrílega “Everything Now” era memorável. Em “Pink Elephant” andamos à procura desses Arcade Fire. E eles também. E soa exactamente a isso. Neste disco, os Arcade Fire soam ao millennial desorientado que procura um adulto numa situação de apuros até se aperceber que é ele próprio um adulto. Aqui os Arcade Fire andam à procura dos Arcade Fire, de preferência sem polémicas anexadas.