“The Revenge of Alice Cooper” é um novo disco que nos vem dar cabo das contagens. Parece que é o oitavo. O desatento ficará muito confuso, dada a sua incapacidade em conseguir sequer lembrar-se de todos os discos que o shock rocker pioneiro editou ao longo de várias décadas. O atento sabe que isto é uma grande reunião da possível original banda que editou os primeiros sete, quando “Alice Cooper” era referente a toda uma banda e não apenas ao seu excêntrico frontman. Isto é mesmo um regresso, um primeiro disco em mais de cinquenta anos.
Portanto, a expectativa tem que estar no sítio certo. Reunidos os sobreviventes, com a guitarra principal a rodar por vários convidados – e com possibilidade de recorrer a gravações não utilizadas do já falecido Glen Buxton, em “What Happened to You” – e com um quarteto de gajos a caminho dos oitenta anos… A nostalgia vai bater com muita força, mas não deverá estar aqui uma obra-prima, muito menos algo que se aproxime de clássicos intocáveis como o “Love It to Death,” “Killers” ou os ainda maiores “School’s Out” e “Billion Dollar Babies.” Um hard rock irreverente, irónico, com gosto pelo mais macabro, e sempre muito divertido. Os temas poderão ir do mais básico terror às sentidas homenagens, – “See You on the Other Side” é para Buxton – passando por críticas à indústria – “Money Screams” – e sacrifícios necessários para ser uma estrela de rock – a muito irónica “Crap That Gets in the Way of Your Dreams.” E ainda cabe algo com que nos identifiquemos, que todos nós já nos enervámos com aquela maldita mosca que não para de zumbir à nossa volta, para entendermos bem a hilariante “Kill the Flies.”
Somos secundários nesta experiência. Estamos a ouvir uns velhos amigos reunidos, a divertir-se. Quase nos anula a validade de dizermos que é capaz de ser muito longo e que nem todas as faixas se destacam da mesma forma. Mas entretém-nos com o seu rock descomprometido, desavergonhadamente de raíz, com um sentido de humor bem à Alice Cooper. Em tempos de muito tristes despedidas, faz-nos pensar se isto também não foi um pouco com esse propósito. Mesmo que ainda se detecte muita energia, especialmente no Sr. Cooper, que se aguente aí por muitos mais anos. Também já tem um legado enorme, para o qual “The Revenge of Alice Cooper”, sem ser a obra de shock rock a remontar aos velhos tempos, é um bom guia para o que fez a longo de todo o seu percurso, mesmo já depois de tomar o nome da banda para si. Considere-se a Tia Alice bem vingada!