Pronto, a primeira coisa que salta à vista é o visual de Davey Havok, sim. Podemos já arrumar esse assunto para o tirar do sistema, para que não fique a ofuscar alguma coisa acerca deste tão curioso “Silver Bleeds the Black Sun…” Mas também podemos fazer um paralelismo, já agora. A capacidade do vocalista se reinventar, visualmente, de uma forma que nem parece que é sempre o mesmo tipo, combina muito bem com as tendências camaleónicas da banda, ao longo do seu percurso, da já completa dúzia de álbuns.

Se já fez muita confusão a fãs mais ingénuos que a banda que se iniciou com um rápido hardcore punk em “Answer That and Stay Fashionable” e seguiu-o numa vertente mais skater em “Very Proud of Ya” foi a mesma que marcou o boom emo com o “Decemberunderground,” então esses detractores ainda eram muito inocentes. Primeiro, porque o “Decemberunderground” é um grande disco. E segundo, porque as mudanças não se ficariam por aí. Se o “Crash Love” e o “Burials” que se seguiaram sugeriram que ficariam fixos num rock alternativo mais directo e simples, foi para baixarmos as guardas. “AFI” e “Bodies” já nos davam indícios de algo muito mais gótico. E então, o rapaz que parecia um epítome visual representativo do emo em 2006 e agora tem aquela bigodaça farfalhuda, revela-se tão aventureiro e inventivo na sua música. Para “Silver Bleeds the Black Sun…” mergulham por completo no pós-punk e ficam góticos de vez, com os 80s como referência.

Recuam no tempo e trazem todas as adorações a Joy Division e a mais qualquer coisa que também caiba. Havok vem capaz de entregar o seu tom de voz mais grave quando é preciso e até são capazes de sintetizar o ambiente, especialmente através da bateria, para trazer a new wave dos 80s para tornar tudo mais próximo ainda. Algo de Depeche Mode mais raivosos em “Blasphemy & Excess” ou uns Clan of Xymox mais alegres em “Holy Visions”; uma folk mais esotérica em “Spear of Truth” e a evidente adoração a uns Bauhaus em “Voidward, I Bend Back”; E a total submissão mais straightforward a esse estilo, capaz de sacar de uns aplausos de actos contemporâneos que façam a mesma adoração, como The Horrors ou Grave Pleasures, nas mais contagiantes “Ash Speck in a Green Eye” ou “Marguerite”. Com essas referências já dá para ter uma ideia de como soa. Claro que ninguém diria que fossem os AFI. Em 1995, ou em 2006, ou em 2013. Hoje em dia já temos que esperar o inesperado deles e aceitar que, se fazem coisas tão radicalmente diferentes, deve ser porque as sabem fazer bem.


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