Incrível e até curioso de pensar que os Abigail Williams começaram como uma banda de metalcore. Claro que tem que se recuar aos seus muito embrionários inícios e num instante começaram a injectar-lhe um black metal sinfónico. Até isso já vai ficando para trás. Já amadureceram bastante o seu som para se afastarem de qualquer questão sobre serem alguns primos mais novos dos Dimmu Borgir e “A Void Within Existence” continua a completa submersão no black metal atmosférico.
Segue o caminho de “Walk Beyond the Dark” para reduzir um pouco daquela atmosfera cinemática que a parte sinfónica trazia e leva-o para algo mais arrastado, mais envolto em névoa, de construção mais progressiva. O ambiente estabelecido pela primeira metade do álbum acaba por se abrir, como nuvens escuras, e revelar aquilo que, mesmo não trazendo lá muita luz, será o de principal destaque em “A Void Within Existence.” As três últimas faixas. É nessas faixas que, mesmo já não recorrendo tanto ao sinfónico, são capazes de se tornar mais épicas ainda, com um doom, um progressivo, até mesmo uma nesguinha de luz, nem que seja trazida pela voz limpa de “No Less Than Death.”
Nesses três temas mais longos, uma contínua catarse, é onde aproveitam, não só para culminar a construção das faixas anteriores, mas também para abrir um possível caminho para o futuro. E o chug de alguns riffs que aqui se encontram mostra que até foram ao passado recordar as suas raízes core e melodeath. Encontraram espaço para elas. Para os riffs melódicos mais tradicionais também. Até para uma dualidade de vozes berradas e limpas. Algo como um reconhecimento de tudo aquilo que conseguem fazer, um despertar de várias emoções num álbum que mesmo assim se pretende manter geralmente melancólico. “A Void Within Existence” é o disco de uma banda capaz de olhar para todo o seu percurso e identificar valor em todas as suas fases, e de quem olha para o futuro e vê possibilidade de terem em mãos um estilo que estagnasse e se tornasse aborrecido e decidiram prevenir-se. Uma banda já completa, mas com um futuro ainda curioso e interessante.