Guerra é um cenário de horror que servirá sempre como inspiração para música que se orienta mais pelo lado negro de toda a nossa existência. Os Ucranianos 1914 são um de vários actos que têm a Primeira Guerra Mundial como fonte para toda a sua obra, já assim o é desde há dez anos atrás, quando apareceram no panorama. Mas algo se deu desde “Where Fear and Weapons Meet” de 2021. Olhando à nacionalidade da banda e ao ano, é fácil perceber o que é: bateu-lhes bem à porta esse demónio da guerra. Não lhes tirou a força para fazer mais música, pelo contrário, e agora todos esperávamos que, se não dessem um largo avanço no tempo, que existissem paralelismos com o presente, neste novo “Viribus Unitis”.
Talvez se pode dizer que haja, mas não da forma óbvia. Os relatos continuam a referir-se a episódios dessa Grande Guerra, por ordem cronológica, com pontos de vista que vão desde o abandono da família para cumprir esse temível dever, a vida como prisioneiro de guerra, ou combatentes em batalhas específicas. Mas, para além da desgraça e melancolia que é inevitável, e que se sente também muito bem a nível sonoro, “Viribus Unitis” procura um foco meio positivo na camaradagem e forças de superação dos mais horrendos males. Talvez seja essa procura e necessidade de união que mais facilmente se consiga trazer para os dias de hoje. De resto, somos logo transportados para a negra década de 1910, logo através dos samples sonoros de hinos da altura.
Musicalmente, “Viribus Unitis” mexe-se pelo meio do registo habitual dos 1914, que sempre fugiram ao óbvio e nunca quiseram fazer apenas black metal comum e sempre o injectaram de outras influências, extremas ou melódicas. O próprio black metal em si é do mais melódico e o death metal que se funde com ele também, e é muitas das vezes de sangue Sueco – e um termo como “war metal” já é mais sonoro do que temático, logo não é para aqui chamado. Segue essa vertente e ainda é capaz de abrandar, para caminhos mais doom, que mais se sente quando chega a “1917 (The Isonzo Front)” e a “1918 Pt. 1: WIA (Wounded in Action)”. Os convidados também evidenciam as suas influências, como Christopher Scott, dos saudosos Precious Death no tema mais chuggy, o inconfundível Aaron Stainthorpe, ex-My Dying Bride a sentir-se em casa no meio de um ambiente tão melancólico e Jérôme Reuter, dos ROME, que já há algum tempo que também tem coisas a dizer sobre este assunto e é na sua faixa que temos as mais explícitas referências actuais à Ucrânia e será essa faixa, orientada por piano, que mais puxa pelas emoções. Essa recta final, que conclui com mais um hino de época, com um título como “War Out (The End?)”, é o principal transporte para o presente, especialmente essa interrogação. Infelizmente, é algo que parece nunca ter fim. Passávamos muito bem com estas coisas no passado, apenas a servir de inspiração para bons discos de bandas como os 1914, sem o constante medo da história a repetir-se. Que um disco como este também consiga funcionar como escape.

