Os Gruesome já cresceram para além de uma mera banda-tributo, mesmo que a sua existência e essência ainda seja toda à volta de homenagear os Death. “Silent Echoes”, o novo álbum, confirma as suspeitas acerca da forma como tratarão o enorme legado de Chuck Schuldiner. Abordam agora o “Human” e confirmam que o contínuo tributo será cronológico e percorrerá a restante discografia dos pioneiros do death metal. É sobre isso e muito mais que o baterista Gus Rios nos esclarece.
Então, para o “Silent Echoes,” o vosso terceiro álbum, avançaram ao longo da discografia dos Death e estão agora a prestar tributo ao “Human”. Este foi sempre o plano, desde o início, atravessar as várias etapas da carreira dos Death?
Após o aparente “sucesso” do nosso álbum de estreia “Savage Land”, decidimos basicamente andar de álbum para álbum, daí em diante. Sabíamos, desde muito cedo, que o “Human” era inevitável, mas eu estive sempre confortável com tão grande tarefa porque tinha o Sean (Reinert) para me apoiar e para me guiar… Até deixar de ter, infelizmente.
Podemos assumir que vamos ouvir outras abordagens a outros discos dos Death, no futuro, ou vão só deixar-se levar pelo fluxo e ver o que acontece naturalmente?
Ainda não falámos sobre isso directamente, mas é engraçado porque acabei de ler uma entrevista com o Matt (Harvey), onde ele disse que o “Individual” estava a seguir na fila, portanto parece que é esse o plano.
Este álbum serve como tributo ao Sean Reinert, que também partiu demasiado cedo. Ele estava no “Human” mas achas seguro dizer que neste momento há um pouco de Cynic na música dos Gruesome, agora que vão por uma direcção mais técnica e progressiva?
O Sean foi o meu mentor e melhor amigo durante quase 25 anos. O seu estilo está integrado no meu e, apesar de eu não chegar sequer perto de ser tão bom como ele era, muitos dos seus atributos tornaram-se parte do meu vocabulário musical na bateria. Neste álbum apenas deixei tudo fluir com o máximo de liberdade possível.
Mencionas os “big shoes” do Sean que tiveste que preencher. Como foi trabalhar com ele inicialmente e o processo de o tentar emular depois?
Eu tinha ligado ao Sean em Novembro de 2019, a dizer o quão aterrorizado estava com fazer este álbum. Ele riu-se, claro, fez várias piadas, mas à típica moda do irmão mais velho, acabou por dizer, “Claro meu, passa cá quando tiveres as demos prontas e podemos trabalhar nas partes de bateria juntos.” Após o seu falecimento eu não conseguia sequer pensar neste álbum. Caramba, eu quase desisti de tocar bateria por completo, porque ficava triste sempre que me sentava para tocar. O luto é lixado. Na nossa conversa daquele dia, o Sean disse-me, “Para que é que precisas de mim? És tu quem tem tocado death metal estes anos todos… Sê tu próprio, apenas.” Palavras sábias do mestre. A minha abordagem no final foi essa… Só ser eu próprio e não tentar emular aquilo que não pode ser emulado. Como já disse, o estilo do Sean é uma parte significativa da forma como toco. Foi o que causou a tristeza sempre que eu tocava bateria após o seu falecimento. Vejo-o quando toco. Ele era e será sempre o meu baterista favorito e o mais influente. No “Silent Echoes”, o que estás a ouvir sou eu a tocar bateria como me foi ensinado pelo meu Jedi da bateria. Eu ainda sou apenas o seu Padawan.
O Matt Harvey também mencionou algumas dificuldades em fazer a parte vocal, já que é suposto fazer mesmo lembrar a voz do Chuck. Soam óptimos, como foi alcançado o efeito desejado?
Na minha opinião, após todos estes anos nos Gruesome e a tocar o “Spiritual Healing”, o “Leprosy” e em breve o “Scream Bloody Gore”, nas suas totalidades, com tipos como o Terry Butler, o Rick Rozz, e o James Murphy, se há alguém neste planeta capaz de nos dar todo aquele som e vibe do Chuck, é o Matt Harvey. O Max Phelps dos Death to All faz um excelente Chuck da era mais tardia, mas aquela vibe old school é mesmo a praia do Matt. Ele e eu crescemos ambos com os Death e aqueles primeiros quatro álbuns mudaram as nossas vidas. É uma grande honra para nós estarmos na posição em que nos encontramos. Estarei sempre grato por isso.
Quando escrevem as canções, normalmente pensam no processo de escrita do Chuck, em estar no lugar dele e tentar corresponder à sua mente durante o seu processo?
O que tentamos fazer com os Gruesome é capturar a vibe, ou a essência de cada álbum em particular. Eu até entendo que pessoas ocasionalmente digam que estamos meramente a roubar música, mas posso assegurar que tentamos, muito sinceramente, o nosso melhor para escrever canções que, primeiro e acima de tudo, passem nos nossos julgamentos. Somos os nossos maiores críticos e o nosso controlo de qualidade está sempre em acção. Escrutinamos as canções individual e colectivamente. A nossa esperança é de que o resultado final dê ao ouvinte a sensação que tiveram quando ouviram o “Human” pela primeira vez, agora ao ouvir o “Silent Echoes”. Quase como uma versão de um universo alternativo que ninguém sabia que existia.
Sem o Sean Reinert, tiveram o Jarrett Pritchard a trabalhar convosco na produção, mais uma vez. Sentem que ele pode tornar-se uma escolha permanente no futuro e que ele é o ideal para vos ajudar a alcançar aquele som dos Death?
Por nós, o Jarrett já é o quinto Beatle. Ele está connosco desde o primeiro álbum e a nossa relação profissional apenas fortaleceu com o tempo. O Jarrett também fez frente de casa em algumas tours dos Cynic, portanto também era amigo genuíno do Sean. Isso ajudou-me imenso, visto que eu sabia que estas gravações seriam muito emocionais e difíceis para mim. O Jarrett compreendeu isso perfeitamente e ofereceu apoio adicional que eu não podia ter encontrado em mais ninguém. Além disso, ele também é amigo do Scott Burns (produtor do “Human” e de vários álbuns dos Death) e pôde contactá-lo para alguma orientação. O som do snare em particular foi resultado directo do input do Scott.
Se tivéssemos a felicidade de ainda ter o Chuck entre nós, sabendo o quão inventivo ele era, como achas que ele soaria hoje em dia?
Gosto de pensar que eventualmente ele teria voltado às raízes da sua juventude e lançado mais death metal old school. Acho que provavelmente ele teria continuado com os Control Denied e chegado, musicalmente, sabe-se lá onde com isso, mas talvez ele tivesse ficado nostálgico e com vontade de ficar mais brutal outra vez.
Dez anos depois, já provaram que são mais do que uma mera banda-tributo. Que futuras ambições ainda restam nos Gruesome?
Acho que enquanto os fãs de Death nos acolherem, continuaremos com a nossa causa. Que acaba por ser semelhante à deles… Somos apenas fãs como todos os restantes. Apenas temos os dotes, a oportunidade e a sorte para fazer música em sua honra. E por isso estou muito grato. Obrigado!