Já é tempo para que os Gjendød se imponham na cena do black metal de hoje em dia. Afinal, o bom black metal da Noruega não se fez só naqueles velhos tempos. “Svekkelse” é já o sexto álbum de uma carreira muito profícua e é o próprio KK quem nos esclarece sobre os processos e como se conseguem manter sempre tão assíduos e inspirados, sempre com a brevidade e precisão que esperamos de um músico do seu estilo.
E estamos de volta aos curtos tempos de espera para já termos um novo álbum demolidor! O “Svekkelse” tem alguma proximidade com o “Livskramper” a nível temático e musical? Ou cada novo disco começa sempre uma nova viagem?
É um álbum que se impõe por si só. Apenas tentamos fazer boas canções com o feeling certo. Normalmente decidimos como queremos que um álbum seja, mas desta vez concentrámo-nos mais em cada canção. O “Livskramper” já está acabado, então simplesmente avançámos.
Os vossos discos soam sempre muito diferentes. Isso é algo que fazem conscientemente, quando trabalham num novo álbum, ou as coisas simplesmente surgem de forma natural?
Sim, é feito conscientemente. Tanto a mood que queremos como o feeling que criamos durante o processo. Já experimentámos muito com os processos de gravação. Fazemos umas demos, de vez em quando, entre os álbuns e isso dá-nos muita liberdade musical.

O material é sempre novo e começam a trabalhar do zero em cada novo álbum, ou encontram-se sempre a trabalhar em ideias antigas que ficaram em espera e a adaptá-las ao material novo?
Sim, são maioritariamente coisas novas. Para a quarta demo “Dødsrikets pinsler”, pegámos numa música que tínhamos feito juntos em ’99 chamada “Forsteinet”, e gravámos-la. E ambos o “Svekkelse” e o “Livskramper” têm, cada um, uma canção regravada das demos.
As letras são baseadas no folclore e lendas locais. Que exemplos de algo que tenhas experienciado levaram a letras deste álbum?
A observação das pessoas ao longo do tempo. Histórias reais. As suas ascensões e quedas, normalmente com finais fatais. O mais raivoso dos bebedolas a atacar-te e a tentar morder-te quando passas, a entalar-se na própria dentadura falsa e a morrer. Ou um homem que estava a cortar madeira com uma motosserra, morreu ao sentar-se, enquanto segurava a motosserra, que ficou sem combustível enquanto ele jazia ali. As letras têm tópicos todos muito diferentes.
Pelo que sei, sempre consideraste as letras muito importantes. Tiras muita inspiração do folclore local e de literatura, ou consegues escrever sobre qualquer coisa que te ocorra e fazes com que encaixe em Gjendød?
Sim a tudo. Há uma enorme inspiração na literatura. Em história. Tortura. Castigo. Podia escrever muitas mais letras se tivesse tempo.
Este é o segundo álbum de Gjendød como um trio. Como é trabalhar com este alinhamento? Sentes que é o ideal e pretendem manter?
Enquanto durou resultou muito bem. O baterista demitiu-se há um ano, doíam-lhe as articulações ao tocar. Ele encontrou outro baterista para nós, que também se demitiu porque não tinha tempo. Tínhamos planos para tocar ao vivo que agora são para esquecer. Provavelmente vamos fazer algo totalmente diferente para a próxima vez.
O “Svekkelse” até é mesmo vendido como uma excelente continuação da segunda era da banda. Concordas com essa divisão e consideras que existem diferentes eras para os Gjendød?
Sim, eras, de acordo com o que um baterista consegue fazer para influenciar o som. A segunda era provavelmente já acabou. Vamos a ver se há uma terceira.
Estive a ouvir o “Nedstigning” outra vez, muito recentemente, uma estreia fantástica. Para além do alinhamento e a nível musical, quais as principais diferenças entre os Gjendød actuais e a banda daqueles tempos iniciais que apontarias?
Até nem me parece que tenha sido assim há tanto tempo. Mas esse primeiro álbum devia ter sido um mini, usando apenas o lado A. O lado B já não soa tão bem aos meus ouvidos. Prefiro o segundo álbum (“Krigsdøger”). Muito melhor. E acho que a banda se encontra hoje numa posição que, com muitos desenlaces possíveis, pode relaxar.
Vocês são obviamente muito influenciados pela cena black metal norueguesa como foi feito originalmente. Consideram-se puristas, são mais de mente aberta, ou nem se preocupam com acompanhar muito do que é feito actualmente na cena black metal?
Não acho que soemos muito puristas, pois não? Não estou lá muito interessado em ouvir bandas de black metal que sejam inspiradas por outras bandas de black metal, então vamos buscar a inspiração a outros sítios, a outros tipos de música e cultura. Depois, então, é que a “violamos” muito gentilmente, e a seguir tentamos reconfortá-la. Obrigado pela entrevista!

