Dez Takes – Os cameos de Stan Lee

por Bruno Ricardo em 26 Novembro, 2018

O cameo de Stan Lee é uma tradição tão antiga nos filmes Marvel que precede até o nascimento do próprio estúdio. Desde X-Men que o decano dos editores-chefe da Casa das Ideiais vai aparecendo de filme para filme, em papéis diferentes… ou talvez não. A sua morte acabará com essa tradição no futuro (embora saibamos que teria já gravado as suas participações em Into the Spiderverse, Captain Marvel e Avengers), mas nunca apagará aquela sensação pateta alegre de lhe reconhecermos a cara quando fugazmente surgia no ecrã. Tornou-se algo tão normalizado que mesmo o não fã de comics conseguia partilhar do regozijo.

O Dez Takes desta semana enumera uma dezena de pequenas aparições de “Stan, the man”, por gosto pessoal ou importância no Universo Marvel. Lee era, sem dúvida, a mais reconhecível face do estúdio e os seus pequenos cameos adensaram essa dimensão que já pussía entre fãs. Esta é a minha forma de homenagear o Walt Disney contemporâneo.

#1 Hulk, de Ang Lee (2003)

Não é o primeiro, mas o nível de geekness é estratosférico. O filme de Ang Lee sobre o Gigante Esmeralda raramente se permite a uma gargalhada, mas aqui gasta toda a dose. Enquanto Bruce Banner – Eric Bana, muito millennial – entra num laboratório, um velhinho e um matução vêm saindo, conversando sobre segurança. São Stan Lee e Lou Ferrigno, o actor que interpretou o Hulk na série de televisão dos anos 80. Duplo piscar de olho aos fãs.

#2 Fantastic 4, de Tim Story (2005)

Esta é a primeira, mas não a última, vez em que o cameo de Lee representa alguém qu existe na banda desenhada, ao invés de simplesmente uma pessoa aleatória apanhada nas circunstâncias. O carteiro Willy Lumpkin é recorrente não só nas bandas desenhadas do Fantastic 4 como também do Spider-man e a certa altura, chega mesmo a namorar a tia May de Peter Parker. É curto, mas faz cócegas nos sítios certos e dá a Lee uma fala ainda comprida.

#3 Spider-man 3, de Sam Raimi (2007)

Uma aparição que vários níveis de meta. Enquanto Tobey Maguire admira um cartaz que celebra o seu alter-ego aracnídeo, que lhe verá ser entregue as chaves da cidade de Nova Iorque, um idoso surge ao seu lado e comenta “Bem, parece que afinal uma pessoa pode fazer a diferença – nuff said”. Não só usa uma das frases recorrentes de Stan Lee na vida real, como evoca o grande chavão “With great power comes great responability”, para além de comentar subtilmente a importância de Stan Lee na cultura popular moderna.

#4 Iron Man, de Jon Favreau (2008)

Tony Stark chega carregadinho de swag a uma festa de beneficiência, com carpete vermelha e tudo, mas quem sai bem isto é Stan Lee, rodeado de belas mulheres  e de robe carmesim. Stark dá-lhe uma palmadinha no ombro e confunde-o com Hugh Heffner. è um belo gag, que resulta mesmo para quem não conhece a identidade do velhinho, e a chegada de Lee ao MCU.

#5 The avengers, de Joss Whedon (2012)

Já no final do culminar da primeira fase do plano da Marvel de transformar qualquer propriedade de BD numa pipa de massa, uma reportagem recolhe opiniões de cidadãos osbre a invasão extraterrestre que se abateu sobre a Grande Maçã. Entre confusão e revolta, um anónimo mostra cepticismo: “Super-heróis? Em Nova Iorque? Não brinquem comigo!”. Claro, Stan, claro que nao.

#6 Captain America: the Winter Soldier, de Joe e Anthony Russo (2014)

Stan Lee regressa às tarefas de segurança, desta vez no Smithsonian, onde guarda o fato original do Capitão América. Steve Rogers, no entanto, necessita dele – por razões patrióticas, claro. Na ronda, quando dá por falta do fato, Lee percebe que rapidamente vai parar ao olho da rua. A cena é ligeiramente elaborada e prova disso são as declarações dos irmãos Russo, realizadores de filme, de que foram precisos vários takes até que ficassem satisfeitos.

#7 Big Hero 6, de Don Hall e Chris Williams (2014)

Este filme de animação da Diseny é baseado numa propridade mais obscura da Marvel, mas isso não impede Lee de surgir gloriosamente. Já visto anteriormente pintado num quadro como pai de um dos personagens, é no final que o personagem se revela como um super-herói encapotado com uma atenção especial relativamente à posição de cuecas na indumentária de um profissional de heroísmo. No fundo, é o reconhecimento de Stan como um semi-deus entre nerds e geeks, um herói em toda a acepção da palavra.

#8 Avengers; Age of Ultron, de Joss Whedon (2015)

Há vários níveis de “Leeismo” neste cameo. Antes de mais, interpreta um veterano da Segunda Guerra Mundial, o que corresponde à verdade biográfica do próprio Lee. Depois, a interacção com vários dos Vingadores é novamente uma boa maneira de colocá-lo entre as suas criações com naturalidade. Mas o melhor vem no final: depois de desafiar Thor bebendo uma potente bebida Asgardiana, o nosso militar veterano vê-se derrotado pelo álcool, vergado ao poder das berragens divinas. Amparado por dois amigos, retira-se de cena com uma palavra que faz tremer a sala: “Excelsior!”

#9 Ant-Man, de Peyton Reed/Deadpool, de Tim Miller (2016)

Os monólogos de Luis, personagem de Michael Peña, são das melhores coisinhas deste filme e num deles, um personagem comenta os atributos de uma companhia com um barmen interpretado por Lee, que concorda de imediato: “She’s crazy stupid fine”. Não sabemos se nesta era do #metoo tal levou ao seu despedimento, pois em Deadpool, Lee é novamente a alma da festa num outro tipo de bar, mais de strip, onde puxa pelo público e dá as boas vindas ao palco à bailarina exótica… Destiny!

#10 Guardians of the Galaxy, vol. 2, de James Gunn (2017)

Talvez o mais importante no grande desenho da mitologia Marvel. Enquanto a nave de alguns personagens atravessa vários lugares do espaço a uma velocidade proibitiva, num deles cruza-se com uma reunião secreta entre várias criaturas alienígenas e um velhinho que lhes conta histórias. Mal a nave desaparece, o contador retoma “Bem, como estava a dizer antes de ser bruscamente interrompido…”. Porque é isto importante? Porque os extraterrestres são três observadores, as criaturas mais antigas do universo Marvel, responsáveis por registar todos os eventos históricos. Lee faz uma referência directa a eventos de Captain America: Civil War. Será que isto significa que todos os papéis interpretados por Stan Lee são afinal um só? O do indivíduo que chegado do exterior se torna humano de várias maneiras para perceber como funcionamos? Quero acreditar nisso: afinal, não foge muito do que Lee fez durante a sua carreira.


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Bruno Ricardo

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