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No último dia da 2ª edição do Close Up em Famalicão, foi exibido Der Amerikanische Freund, ou The American Friend, ou ainda O Amigo Americano, filme neo noir de Wim Wenders datado de 1977 e uma ode ao cinema, com apontamentos de luz e cores saturadas de Robby Müller, em que Dennis Hopper lança umas vibes de Midnight Cowboy e Bruno Ganz é um homem à espera da morte, sem nada a perder.
Adaptado do romance Ripley’s Game de Patricia Highsmith, conta-nos a história de um doente terminal que se envolve em dois assassinatos, em troca de uma recompensa para deixar de herança à família. É um clássico do cinema, portanto.
Cheguei à sessão com uns minutos de atraso, o que me obrigou a entrar na sala já escurecida e a sentar no primeiro lugar disponível, pois não queria incomodar a plateia. Quando a tela iluminou a sala, troquei de lugar, percebi que havia alguns lugares vazios umas filas acima.
Mas foi quando o filme terminou e as luzes acordaram, que me deparei com um cenário preocupante: no grande auditório da Casa das Artes de Famalicão, com cerca de 400 lugares, estavam apenas uns 10 espectadores juntamente com elementos da organização do Close Up.
É difícil explicar como é que isto ainda acontece.
Wim Wenders poderia até há bem pouco tempo ser considerado um realizador difícil, mas com o devir dos tempos e a sucessão geracional, mais culta e informada, reúne em Portugal cada vez mais seguidores do seu cinema.
Famalicão não é propriamente um grande centro urbano, mas de enorme proximidade do Porto, Braga, Guimarães, Barcelos, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Maia, Matosinhos, Trofa… Vinte minutos encurtam as distâncias.
A sessão tinha o preço máximo de €2. E estava agendada para um Sábado às 17h30.
Graças às redes sociais, às agendas digitais, aos agregadores culturais, às webzines e à fome voraz da imprensa por conteúdo, é cada vez mais simples e rápido encontrar oferta cultural de qualidade. É certo que a organização do Close Up ainda não aprendeu a comunicar bem, nem a aproveitar os canais e plataformas existentes para alcançar um público maior, tendo estreado um certame em 2016 usando as regras de 2003, mas isso não justifica.
Infelizmente, este é uma situação recorrente fora de cidades como Lisboa e Porto. Mas depois queixamos-nos, reclamamos e rogamos pragas aos centralistas que querem tudo para eles. Pois bem, se o centralismo perdura, se calhar a culpa até é nossa.