Acabou a criatividade no mundo musical?

por Arte-Factos em 24 de Junho, 2019

Acabou a criatividade no mundo musical?

Esta pergunta não sai da cabeça dos apreciadores de boas canções, de vários artistas e da crítica especializada. É cada dia mais difícil conseguir ser original no mundo artístico. Sempre existiram apenas 7 notas musicais, e cada música existente no planeta Terra é uma combinação entre elas, nos mais diversos formatos.

Isto nunca foi um grande problema, foram criadas desde músicas de câmara como as de Bach, óperas magníficas como as de Mozart ou a mais fina flor da MPB, como Pixinguinha e Radamés Gnattali. Ao mesmo tempo, tem-se “pérolas” como exemplares do funk, pop, sertanejo ou axé.

Cabe de tudo! Com estas 7 notas – dó, ré, mi, fá, sol, lá, si – pode-se obter uma quantidade de canções muito semelhante a que se tem ao calcular combinações numéricas de loteria. Às vezes, você não vai embolsar nada, poderá receber uma pequena quantia, ao ganhar um prêmio menor, ou ser um grande vencedor, ao acertar o prêmio principal!

O questionamento que fica atualmente é: será que ninguém está conseguindo acertar nem uma pequena gratificação, quanto mais o prêmio principal? Acabou a criatividade ou é pura preguiça e acomodação? Ou é mais fácil voltar aos grandes compositores, utilizando-os como “inspiração”? Não faltam muitas acusações de plágio por aí…

Trechos grandes de obras consagradas são utilizados legalmente, com créditos aos autores, em novas canções, mas em grande parte dos casos, pedaços são roubados sem o menor pudor, como se fossem originais, sem que os compositores originais sejam recompensados.

Em muitas oportunidades – atualmente, mais do que se pode imaginar – os “roubos” são chamados de “homenagens”, mas quando a nova obra acaba se tornando um grande sucesso, os artistas lesados acabam apelando aos tribunais, em busca de seus direitos.

O Rolling Stones, após uma batalha gigantesca nos tribunais, na qual se tornaram vencedores, resolveu entregar a Richard Ashcroft os direitos sobre a musica – The Last Time – que foi sampleada no grande sucesso do cantor britânico, Bitter Sweet Symphony, ainda quando fazia parte da banda The Verve. Ele nunca tinha recebido um tostão pela canção, sucesso em todo o mundo.

Assim como o The Verve, o cantor britânico Robin Thicke e seu parceiro Pharrell foram processados e tiveram que entregar os direitos da canção Blurred Lines aos herdeiros do cantor Marvin Gaye, de quem ambos “surrupiaram” diversas notas da música Got to Give It Up.

A prática está totalmente disseminada na indústria. Atualmente, é difícil encontrar uma canção em que não haja a citação – legal ou não – de outra mais antiga. A criatividade alheia precisa ser analisada com uma lupa pelos especialistas antes de ser dada qualquer opinião sobre sua qualidade artística.

Uma espécie de VAR – um olhar eletrônico especializado, atualmente adotado em partidas de futebol – está sendo utilizado para atestar a lisura de algumas composições. Antes, apenas o ouvido apurado de alguns fãs e críticos detectava apropriações indevidas.

No Brasil também não faltam casos, tanto de plágios escandalosos quanto de acusações sem comprovação. A canção Já sei namorar, dos Tribalistas, possui uma citação não creditada da música “It’s a Family Affair”, da banda americana Sly and The Family Stone em sua introdução. Representantes da banda chegaram a reclamar, mas não deu processo.

Já Rod Stewart, processado por Jorge Benjor pelo roubo sem pudores da canção Taj Mahal, utilizada integralmente em “Da Ya Think I’m Sexy?”, perdeu a causa na justiça para o brasileiro. Mas Stewart, utilizando-se de uma manobra pouco ética, doou os direitos da canção a uma instituição de caridade antes do final do caso. Jorge ganhou, mas não levou nada.

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