Depois de um álbum duplo cheio de convidados, “Portuguese Freakshow“, e um álbum em trio gravado “ao vivo em estúdio” no Brasil, “Primitive“, os The Dirty Coal Train voltam a baralhar cartas e a dar novamente.
Para começar, assinam o disco novo como Dirty Coltrane, tal como faziam no início da banda, voltam a esta assinatura no ano em que celebram 10 anos de projecto. Depois parece que reduziram os convidados nas gravações para centrar grande parte da instrumentação no duo Ricardo e Beatriz. Espalharam as canções de Dirty Coltrane Volume I e II por uma edição em LP de vinil + CD ou uma edição limitada em LP de Vinil + cassete com lançamento no passado dia 16 de Outubro.
* de 1 a 21 – Vol I, de 22 a 39 – Vol II
#1 One trick pony
O álbum começa com uma declaração de intenções: a banda assume mais uma vez o seu gosto pela simplicidade garage punk e expressa-o na principal frase do tema: “i’m a one trick pony with a broken leg”. É uma carta de amor aos Ramones, aos Dead Moon, aos Cramps, aos Half Japanese, … como tantas outras cartas que se lêem nas entrelinhas dos temas anteriores da banda na procura do seu novo som mas sempre com o pezinho no passado a impulsionar o novo salto no escuro (Não será essa a fórmula do progresso do rock desde que bebeu na pia batismal do blues?”).
#2 Mule
Desde que os Dirty se centraram mais no trabalho de Ricardo e Beatriz e que os concertos de Tiger Picnic se tornaram pontuais nos intervalos dos Dirty não seria de estranhar aparecer em Dirty um blues punk bem à moda de Tiger Picnic com temática rural.
#3 Blue Jean baby bop
Um garage punk com piscadela de olho ao rockabilly de Gene Vincent
#4 Snakebite
Um riff mais “atípico” para a banda e um final que pega em Glenn Branca, Rhys Chatam e Sun Ra e faz uma versão “caseira” para interpretação em duo.
#5 Lo-fi rocketship
Este tema apareceu originalmente como surpresa de prenda de anos do Ricardo para a Beatriz e foi trabalhado depois para esta versão final.
#6 Hit
Fala de não ir em cantigas de propaganda política que prometem mundos e fundos a quem é explorado mas que mantêm uma agenda de exploração ainda maior nas propostas políticas. Contra esse fosso enorme entre conversa e propostas concretas o duo fez este rock de inspiração no gospel yeah-yeah do the make-up.
#7 Knife calquitos
Para quem não sabe, os calquitos (ou “kalkitos) eram uma espécie de autocolante que se colocava na pele para os miúdos simularem tatuagens. Este tema fala sobre isso e sobre um mosquito cocaínado.
#8 Bye bye love
Brincadeira com os grupos que se dedicavam a compor harmonias vocais para vários vocalistas (“Vintage Harmony Groups”) com uma piscadela de olho a Nicholas Cage (ator que o duo adora) em “Peggy Sue got married”
#9 Riding the rails
O Ricardo é um resmungão e acha que os últimos 3 álbuns do Nick Cave não lhe enchem as medidas. A Beatriz mandou-o calar e fazer ele um tema que gostasse como se fosse o Cave. Claro que é uma missão falhada à partida mas mesmo assim o Ricardo fez uma linha de baixo e rabiscou isto.
#10 Good old days (Ornette Coleman)
Versão para um dos temas preferidos musico de free jazz.
#11 This world
O duo neste tema atirou-se à fórmula do “stomp” do rock com aquele ritmo bem martelado que os Cramps tão bem faziam.
#12 Shit king of Skullfuck Mountain
Um instrumental dedicado a todos aqueles políticos que centram as suas propostas apenas em correr com os “culpados disto e daquilo” sem quererem resolver a ponta de um corno “disto e daquilo”.
#13 Indian Joe
O Joe indio gosta de coelhos brancos, nunca leu um livro e vive com a cabeça enfiada no chão. Os cowboys da cocaína só lhe f###m a vida.
#14 Wacky races
Um instrumental com piscadela de olho ao surf e à série de animação homónima.
#15 Donkey
Um punk blues dedicado ao burro do duo e que já têm sido tema obrigatório nos concertos ao vivo.
#16 The Fall
Com Pete Beat dos Act Ups na bateria Beatriz conta a história de um extraterrestre que lhe aterrou no quintal Uma resposta garage punk ao fado de Amália “O Senhor Extraterrestre”.
#17 Waltz
Reinterpretação de um tema da 1ª demo gravada a solo pelo Ricardo. Aqui com Maria Côrte no violino.
#18 Hey MF (DeCanja)
Versão para um original da 1ª banda onde Ricardo e Beatriz tocaram juntos, os DeCanja. Com participação da vocalista dos DeCanja: Miss Volatile e de Pete Beat dos Act Ups na bateria.
#19 Requiem por um freak
Mais um tema em português. Desta vez um rockabilly bem sujo sobre continuar a acreditar em sonhos.
#20 Holy engines
O grupo atira-se novamente ao tema das rendas a empurrarem pessoas e salas de concertos para fora de casas que ocupam à décadas. Um punk curto e grosso como a temática exige.
#21 Clusterfuck
Instrumentalmente foram beber aos Velvet. Na letra Ricardo descreve as notícias que estavam a dar nesse dia no final do ensaio: tinham bombardeado uma escola na Síria mas ainda assim o ênfase foi para o grupo de adolescentes portugueses que partiram um hotel em espanha e para o futebol.
#22 Millennial Kid
O duo já tinha ameaçado responder ao desafio de alguns amigos para fazer um tema comprido. “Quando e se nos apetecer”. Parece que foi agora. “Millennial Kid” é um tema punk de 9 minutos em que o duo diz que a culpa de “os miúdos só terem merda na cabeça” é de quem teima em colocá-la lá (através de políticas educativas obsoletas, discursos de ódio e pop chata como o caraças entre outros). Deixa a proposta: “ás vezes o rock salva os putos”.
#23 Frog blues
Mais um blues da Beatriz sobre amontoar montes de estrume de ovelha e ter um sapo a guardar a porta.
#24 The Neurotic Bartender
Reinterpretação de um tema da primeira demo gravada pelo Ricardo. Desta vez num tema de estrutura muito pouco convencional e novamente acompanhados pela Maria Côrte no violino.
#25 Punk Rock Anthem #1
Mais um tema que a banda já rodou ao vivo aqui numa nova roupagem e com Nick Suave na bateria.
#26 Sunglasses at night (Corey Hart)
Uma versão para um tema chavão dos anos 80, aqui em guitarra fuzz e guitarra limpa.
#27 Le cauchemar de Dracula
Um rock com cheirinho a surf inspirado num dos 1ºs VHS que a Beatriz viu ainda novinha na versão dobrada em Francês.
#28 Pangolim
Novamente em português desta vez o Ricardo tentou estragar a fórmula do Fausto em versão lo-fi.
#29 Gone
Regresso ao garage punk mais cru e directo com uma piscadela de olho à Goner Records.
#30 Fullblownhardon
Não há nada mais excitante que alguém a ler um bom livro!
#31 Indian Heart
Tema composto depois de uma tour no Brasil em que o duo sobrevoou uma Amazónia cheia de incêndios.
#32 Lake of Cucamonga
Um instrumental com um pé no surf e outro no easy listening e na exótica.
#33 Z
Citações de Nietzsche entre a letra do duo tudo por cima de um baixo distorcido e da bateria de Nick Suave. O que há para não gostar?
#34 Ballad of Decermilo
Uma balada para um casal de assassinos de arredores de Viseu.
#35 The loner (Neil Young)
Um momento mais calmo com uma versão para um tema caminho do Neil Young. Pete Beat na Bateria e Nick Suave no orgão.
#36 Gringo Aburrido
Um tema que foi originalmente editado numa versão ao vivo no split com o argentino “Trash Colapso”. Aqui com Ricardo a manter apenas a voz de Beatriz e algumas das guitarras do original para fazer uma piscadela aos trabalhos de corte/cola dos Nurse With Wound.
#37 Escatologia (versão instrumental)
Versão instrumental para um tema que o grupo fez para o rapper Genes colocar voz.
#38 Casino (versão 2)
Versão do tema originalmente editado no split com Strobe Talbot. Aqui centrada em com vozes, órgão, latas e castanholas.